Prefácio

O Dicionário de Teologia Católica tem como objetivo expor as doutrinas da teologia católica, suas provas e sua história. Não se destina a substituir os cursos didáticos de teologia, mas fornecerá complementos úteis a eles. Mais livre em sua abordagem do que os tratados clássicos, redigido por representantes de todas as escolas católicas e por especialistas de competência reconhecida, abarca, em um plano uniforme e em seus diversos aspectos, todas as questões que interessam ao teólogo. Apresenta-as da maneira que melhor atende às necessidades de nosso tempo. Aproxima os ensinamentos da fé dos dados da história e de outros conhecimentos humanos. Poderá assim contribuir não apenas para a vulgarização, mas também para o progresso da ciência teológica. Poderá também ser consultado com plena confiança por não crentes que desejem ter informações exatas e precisas sobre os dogmas católicos e as questões teológicas.

Em seu plano e execução, difere notavelmente do Dicionário de Teologia de Bergier, que prestou grandes serviços, mas que se tornou totalmente insuficiente. Não é também uma imitação ou adaptação francesa do Kirchenlexikon, cuja primeira edição foi publicada em 1847 e traduzida por Goschler sob o título de Dicionário Enciclopédico de Teologia Católica. Fornece informações mais completas do que a segunda edição, que acabou de ser concluída. Tem o caráter científico sem ter a amplitude enciclopédica. Em vez de cultivar todo o campo das ciências sagradas e estudar todos os fatos da história da Igreja, restringe-se mais a um estudo mais aprofundado da teologia católica e questões relacionadas. Sem apresentar a forma apologética do Dicionário Apologético da Fé Católica de Jaugey, constituirá, de fato, uma vasta apologia da fé. É pela sua doutrina que o catolicismo é divino, e quase todas as controvérsias religiosas, mesmo quando envolvem problemas históricos ou científicos, têm como objeto questões de doutrina.

Todos os artigos do dicionário são organizados em ordem alfabética. Sua extensão é proporcional à sua importância teológica. Muitos deles apresentam apenas informações breves. Os mais longos e significativos são divididos e distribuídos de tal forma que cada redator aborda os assuntos nos quais é especialmente competente. Assim, um historiador se limita a estudar um ponto da história, enquanto um teólogo examina as consequências doutrinárias que dele se desdobram ou as dificuldades que ele suscita.

Tabelas gerais e analíticas encerrarão toda a obra.

I. EXPOSIÇÃO DAS DOUTRINAS

O dicionário trata das doutrinas que são estudadas atualmente nos tratados de teologia fundamental, de teologia dogmática e de teologia moral. Entre essas doutrinas, podemos distinguir: 1° o fato da revelação cristã; 2° os ensinamentos dogmáticos ou morais que pertencem à fé ou são teologicamente certos; 3° as opiniões livres; 4° os sentimentos heterodoxos. Os princípios e as teses gerais do tratado "Da verdadeira religião" são estabelecidos de acordo com os ensinamentos do Concílio do Vaticano e levando em consideração os dados da ciência contemporânea.

A autenticidade e a veracidade histórica da Sagrada Escritura, que são expostas no Dicionário da Bíblia de M. Vigouroux, não são tratadas. No entanto, cada um dos livros bíblicos tem um artigo especial, no qual as questões críticas que o envolvem e que os teólogos não devem ignorar são claramente resumidas; neles são expostos especialmente os ensinamentos dogmáticos e morais que estão contidos em cada livro, de forma a fornecer sucessivamente todos os elementos de uma teologia bíblica. As questões apologéticas detalhadas, que são resolvidas no Dicionário de Jaugey, estão excluídas do âmbito do dicionário teológico.

As doutrinas que são de fé ou que são teologicamente certas são determinadas com precisão, sem exagero ou atenuação, de acordo com os ensinamentos da Igreja e o senso comum dos teólogos. Essas doutrinas são expostas em si mesmas, em seus relacionamentos com as verdades correlatas e em suas consequências. Os princípios da moral cristã são explicados, sem que as aplicações da casuística sejam indicadas. Aqui também encontram lugar apenas os dados mais importantes da ascética e da mística.

As opiniões comuns, especialmente as de Santo Tomás de Aquino, são seguidas. Nas questões livremente controversas e que ainda dividem os teólogos, as diversas opiniões são expostas com suas respectivas provas, sem se pronunciar a favor de nenhuma em particular. Não estamos vinculados a nenhuma escola teológica em particular. Artigos são dedicados também às heresias e aos erros doutrinários. Neles, é mostrado em que medida estão em oposição ao ensinamento católico. Explicam-se os princípios dos quais derivam e as consequências que acarretam. Por fim, expõe-se, ocasionalmente ou em artigos específicos, a origem e o significado das fórmulas usadas na linguagem teológica.

II. PROVAS DAS DOUTRINAS

As fontes das quais os teólogos extraem as provas de suas doutrinas são: 1° A Escritura Sagrada; 2° a tradição; 3° a razão. Artigos especiais estabelecerão o valor doutrinal dessas fontes. A autoridade das diversas formas de tradição e as relações da razão com a fé são examinadas em particular. Também são expostas as provas que os teólogos retiram dessas fontes.

1° Escritura Sagrada. — Os trechos escriturais que têm maior importância doutrinal são comentados cada um em um artigo separado. Sua posição alfabética corresponde ao título do livro que os contém. O sentido literal do trecho é estabelecido conforme o contexto e com o auxílio de todos os meios fornecidos pela hermenêutica. Se o texto da Vulgata é usado como base para a interpretação, isso não impede o recurso ao texto original e às versões antigas. Recorre-se, se necessário, aos julgamentos da Igreja e ao acordo dos representantes da tradição. Para as profecias, leva-se em conta a luz lançada sobre elas pelo conjunto do Antigo Testamento e pela revelação cristã. Quando o trecho é passível de várias interpretações prováveis, elas são apresentadas. Historicamente, expõe-se como o texto foi entendido no passado, distinguindo, se necessário, entre as igrejas, especialmente entre aquelas que usavam textos diferentes. Não se detém nas interpretações acomodatícias.

Cada uma das doutrinas que são respaldadas pela Escritura Sagrada é estabelecida por ela mesma. Nessa demonstração, os diversos trechos das Escrituras são apresentados na ordem em que os livros foram escritos, destacando-se especialmente entre os dados do Antigo Testamento e os do Novo. Isso evidencia como Deus desenvolveu sua revelação ao longo do tempo.

2° Tradição. — Os principais documentos dogmáticos (os documentos anteriores ao século XVI, que foram compilados por Denzinger em seu Enchiridion Symbolorum et Definitionum e outros ainda) são objeto de artigos especiais. A posição alfabética de cada artigo é determinada pelo nome que eles carregam, para os símbolos; pela palavra de abertura, para as bulas mais conhecidas; pela matéria tratada ou pelo autor condenado, para os atos da Santa Sé que têm um objeto muito especial, e para as outras decisões, pelo nome do papa ou do concílio que as proferiu.

Uma breve introdução revela as circunstâncias que esclarecem o sentido do documento e indica seu objetivo e plano. É fornecida uma edição crítica do texto dos documentos antigos. A versão em latim que era usada na Idade Média é publicada junto com os textos gregos. Esses documentos são geralmente traduzidos para o francês a partir do texto original. Breves explicações doutrinárias e históricas são colocadas após o texto completo ou suas partes distintas, para explicar seu significado e determinar o que é definido ou decidido. Também são indicadas as fontes de onde os autores do documento retiraram e os desenvolvimentos que adicionaram aos ensinamentos anteriores da igreja.

Artigos também são dedicados a monumentos arqueológicos, textos ou usos litúrgicos, práticas disciplinares, fatos históricos, etc., que têm importância doutrinária notável. No entanto, o domínio da arqueologia e da liturgia é mantido ao mínimo indispensável, para não invadir o território do Dicionário de Arqueologia Cristã e de Liturgia, publicado pelo dom Cabrol. Além disso, para evitar repetições, a prova da tradição de cada dogma é normalmente precedida por uma breve história do dogma, que serve de base para essa prova ou a constitui, conforme as circunstâncias. Essa história segue o dogma ao longo dos séculos, desde o momento em que ele se manifesta. Mostra especialmente como ele encontrou sua formulação definitiva, se não foi sempre expresso com a mesma clareza, e como chegou a ocupar um lugar entre os dogmas da fé católica, se não tinha esse caráter desde o início. Se isso for útil, em seguida, explica-se a prova de tradição que emerge desse histórico e resolvem-se as dificuldades.

3° Razão. — A divindade da revelação cristã é demonstrada por numerosas provas. Estabelecem-se os fatos que servem de base para a maioria dessas provas, antes de desenvolver a demonstração que delas decorre. São fornecidas sucintamente as provas filosóficas das principais verdades conhecidas pela razão, relativamente a Deus, à natureza humana, à moral e às questões sociais. Por fim, mostra-se que os diversos mistérios da religião cristã não oferecem nada contrário à razão.

Objeções. — Antecipam-se as objeções simples na exposição das doutrinas e provas. Aquelas que apresentam mais dificuldades são resolvidas seja em partes de artigos, seja mesmo em artigos distintos.

III. HISTÓRIA DAS DOUTRINAS

Ela abrange a história da teologia considerada em seu conjunto, a dos sistemas teológicos, das heresias e das teorias errôneas, bem como a dos pontos particulares da doutrina. Nestes artigos, segue-se a ordem do tempo. Indicam-se os auxílios prestados à teologia e as dificuldades que lhe foram criadas por vários sistemas filosóficos e por algumas descobertas das ciências humanas. Os papas e os concílios têm artigos distintos, nos quais se mostra como contribuíram para a conservação, esclarecimento e desenvolvimento dos dogmas. Os serviços prestados à ciência sagrada nos principais países cristãos, nas principais universidades ou escolas, nas principais ordens religiosas, são estudados separadamente.

Notas são dedicadas aos autores que contribuíram para o progresso da ciência sagrada, e aos principais adversários da doutrina católica. Geralmente, limitam-se a uma biografia muito sucinta do personagem e à enumeração de suas obras de natureza teológica. Indicam-se, quando necessário, as opiniões particulares do autor. Quando ele exerceu grande influência, estuda-se sua doutrina e até mesmo suas principais obras, cujas datas são sempre indicadas. São apresentadas as versões latinas dos autores gregos ou orientais e as traduções francesas dos autores modernos estrangeiros.

Quanto ao modo de redação de cada artigo, procurou-se torná-lo substancial, claro, conciso e sem frases rebuscadas. As informações úteis são multiplicadas, de modo a fazer do dicionário não apenas uma obra instrutiva, mas também uma ferramenta de trabalho. Evitam-se as fórmulas de difícil compreensão. Quando consideradas indispensáveis, não deixamos de explicá-las. Todos os artigos são redigidos de forma metódica. Não se desenvolvem neles os pontos que, de acordo com o plano do dicionário, devem ser tratados em outros lugares, e limitamo-nos a remeter os leitores. Quando os artigos têm certa extensão, as principais divisões são indicadas no início. São fornecidos títulos distintos para cada uma dessas partes, para que os leitores que não precisam consultar o artigo inteiro encontrem imediatamente a divisão que lhes interessa.

A redação é feita em francês. As citações de obras escritas em outras línguas que não o francês, o grego ou o latim, sempre são traduzidas. O latim é traduzido quando seu significado não é facilmente compreensível. Exceto os textos gregos, todo o dicionário é impresso em letras latinas. Os caracteres das línguas orientais são transcritos da maneira adotada para o Dicionário da Bíblia de M. Vigouroux e lembrados na tabela anexa.

São adicionadas informações bibliográficas à maioria dos artigos. Primeiro, indicam-se, se houver, as fontes do assunto e, em seguida, os livros onde ele foi mais bem tratado, todos em ordem de aparição. São fornecidos de acordo com as seguintes regras:

1° O título da obra, o formato, o local e a data de impressão são relatados com precisão;

2° As referências aos Padres gregos e latinos são uniformemente feitas à patrologia de Migne, com a indicação da coleção pelas duas iniciais P. G. para a patrologia greco-latina e P. L. para a patrologia latina, o volume em algarismos romanos e a coluna em algarismos arábicos. Se edições melhores foram publicadas mais recentemente, são adicionadas as referências dessas edições;

3° O título das obras dos Padres gregos ou orientais é dado em latim; o dos autores modernos estrangeiros, em sua língua original, exceto para os livros em línguas eslavas;

4° As traduções francesas precisas são citadas preferencialmente às obras originais estrangeiras.

Cada artigo é assinado com o nome do autor, precedido pela inicial de seu primeiro nome. Cada volume conterá a lista de todos os redatores que colaboraram nele.

O eminente teólogo, que elaborou com tanta precisão, justiça e amplitude o vasto plano do Dicionário de Teologia Católica, só pôde iniciar sua execução e realização. A morte o atingiu no início de sua grande empreitada. Ao suceder ao Sr. Abbé Vacant, nosso mestre e amigo, na direção de sua obra, cuidaremos para não modificar seu espírito, aplicar fielmente seus princípios e, com a ajuda dos numerosos colaboradores de sua escolha, não ficar aquém da pesada tarefa que assumimos.

E. MANGENOT