ALEXANDRE (Santo), bispo de Alexandria após Aquilas, em 312 ou 313. Foi responsável pela grande igreja chamada de Teonas. (Santo Atanásio, Apol. ad Const., n. 15, P. G., t. XXV, col. 613.) Ele aliava um caráter doce e afável a uma firmeza e constância que demonstrou nas diversas lutas que enfrentou: contra um certo Crescêncio, sobre a celebração da Páscoa (Santo Epifânio, Her., LXXI, n. 9, P. G., t. XLII, col. 356); em defesa de sua autoridade patriarcal contra Melécio, bispo de Licópolis, na Tebaida (Teodoreto, Heret. fabul. comp., IV, 7, P. G., t. LXXXIII, col. 425); e, sobretudo, contra o nascente arianismo, a partir de 318 ou 320.
O santo bispo tentou inicialmente ser brando com Ário e seus seguidores: organizou um debate em assembleia do clero, fez advertências verbalmente e por escrito, mas sem sucesso. Então, convocou um concílio, em 320 ou 321, reunindo cerca de cem bispos do Egito e da Líbia, e excomungou Ário e seus partidários.
No entanto, o herege continuou espalhando seus erros, primeiro em Alexandria, depois na Palestina e na Bitínia, onde conseguiu o apoio de vários bispos, entre eles os de Cesareia e Nicomédia, os dois Eusébios, que até escreveram em sua defesa para São Alexandre. O zelo deste só aumentou; enviou cartas urgentes para todos os lados, das quais cerca de 70 ainda existiam no tempo de Santo Epifânio. (Her., LXIX, n. 4, P. G., t. XLII, col. 209.)
Duas dessas cartas chegaram até nós. Uma é uma encíclica dirigida aos bispos em geral, informando sobre a condenação dos hereges, seus nomes, suas doutrinas e alertando contra as intrigas dos arianos e seus protetores, especialmente Eusébio de Nicomédia. Essa carta, assinada pelo clero alexandrino, provavelmente precedeu o Tomo mencionado em outra carta, enviada pelo patriarca ao seu homônimo, bispo de Bizâncio. O conteúdo é semelhante ao da primeira, mas mais detalhado; as intrigas dos arianos são novamente denunciadas e seus erros expostos e refutados.
Nessas duas cartas, repletas de vigor apostólico e santa indignação, Alexandre defende essencialmente a doutrina que seu sucessor, o grande Atanásio, sustentaria depois, embora com fórmulas menos precisas. Ele atribui a Maria o título de Theotokos (Mãe de Deus), mas ainda não usa o termo homoousios (consubstancial). À afirmação fundamental de Ário de que "Deus nem sempre foi Pai, pois houve um tempo em que Deus não era Pai e que o Verbo divino não existiu desde toda a eternidade, mas foi tirado do nada", Alexandre, defensor da fé católica, responde:
"É necessário dizer que o Pai é sempre Pai, e que Ele é Pai em virtude da eterna presença do Filho, por quem Ele é Pai." (P. G., t. XVIII, col. 557, 573.) Ele prova a eterna geração do Verbo, sua filiação própria e natural e sua perfeita igualdade com o Pai, utilizando textos bíblicos clássicos: João 1, 1. 3.18; 10, 15.30; 14, 5-10; Mateus 3, 17; Colossenses 1, 15-17; Romanos 8, 32; Hebreus 1, 2 ss.; Salmo 2, 7; 109, 3; Isaías 53, 8 etc.
Ário aproveitou-se da luta entre Constantino e Licínio (322-323) para voltar ao Egito. Pouco depois, Constantino, agora vitorioso, escreveu de Nicomédia, sob a clara influência de Eusébio, uma carta comum "a Alexandre e a Ário", na qual os repreendia por perturbarem a paz com disputas insignificantes. (Eusébio, Vita Constant., II, c. LXIV-LXXI, P. G., t. XX, col. 1037-1048.) A carta foi confiada ao ilustre bispo de Córdoba, Ósio, que também tratou de outros problemas na Igreja de Alexandria. Em um concílio realizado por volta de 324, ele corrigiu Colluto, um simples padre que havia se separado de seu bispo e pretendia conferir ordenações sacerdotais (Atanásio, Apol. cont. arian., n. 75, P. G., t. XXV, col. 385), mas não conseguiu resolver a questão ariana. Foi então que o imperador decidiu convocar o Concílio de Niceia. Apesar de sua idade avançada, Alexandre compareceu e teve uma grande participação nos debates, tanto pessoalmente quanto por meio de seu jovem arquidiácono, Atanásio. Teve a felicidade de ver Ário condenado e de ter confirmada, no cânon 6, a autoridade patriarcal da sé de Alexandria sobre todo o Egito, a Líbia e a Pentápole. Ele retornou ao seu povo trazendo uma carta em que os Padres do concílio lhe rendiam grandes elogios. (Sócrates, H. E., I, 9, P. G., t. LXVIII, col. 77 ss.)
Faleceu em 18 de abril de 326, segundo alguns (Renaudot, Hist. patr. alex., Paris, 1713, p. 83); segundo outros, baseando-se no prefácio siríaco de uma carta pascal de Santo Atanásio, em 17 de abril de 328. (Sozômeno, I, 17, P. G., t. LXVII, col. 976.) Antes de morrer, teria indicado Atanásio como seu sucessor. Sua memória é celebrada em 26 de fevereiro.
Ver também os artigos Arianismo, Atanásio e Niceia (Concílio de).
Fontes:
1° Biografia:
Histórias eclesiásticas de Sócrates (I, V-XV passim, P. G., t. LXVIII, col. 42-445); Sozômeno (I, XV-XVII, P. G., t. LXVII, col. 903-915); Teodoreto (I, I-VII, P. G., t. LXXXII, col. 885-931); Rufino (I, 1, P. E., t. XXI, col. 467); Baronius-Pagi, Annales (t. III, Lucques, 1788, anos 310-318, Índice, p. 669; t. IV, 1789, anos 325-326, Índice, p. 660); Henschenius, Comment. hist., Acta Sanctorum, 26 de fevereiro; Tillemont, Mémoires (t. VI, Paris, 1704, p. 213-238); Ceillier, Hist. gén. des aut. sacr. (Paris, 1733, t. IV, p. 101-119; nova ed., t. III, p. 104-115); Hefele, Hist. des conciles (trad. Leclercq, 1908, t. I, p. 357 ss.); Will. Smith, Dictionary of Christian Biography, artigo sobre Santo Alexandre.
2° Escritos:
P. G., t. XVIII, col. 523-607 (duas cartas de Santo Alexandre, um sermão De anima et corpore deque passione Domini, e alguns fragmentos); Pitra, Analecta sacra, t. IV, p. 196-200, 430-434 (diversos fragmentos). Para outras referências bibliográficas, ver Harnack, Geschichte der altchristlichen Literatur bis Eusebius, (Iª parte, Leipzig, 1893, p. 449-451).
X. LE BACHELET.