Alexandre Noël


 

ALEXANDRE Noël. — I. Biografia. II. Escritos.

I. Biografia

Nasceu em Rouen em 19 de janeiro de 1639. Durante os estudos colegiais, destacou-se pela vivacidade e precocidade de sua inteligência. Aos quinze anos, ingressou na Ordem dos Frades Pregadores no convento de sua cidade natal e fez profissão em 9 de maio de 1655. Logo depois, foi enviado ao convento de estudos de Saint-Jacques, em Paris, onde dedicou-se à filosofia, teologia e pregação. Em 1672, foi apresentado à Sorbonne para os exames de licenciatura. Seus sucessos nos exercícios públicos chamaram a atenção do ministro Colbert, que o escolheu para integrar o grupo de eclesiásticos responsáveis pela formação teológica de seu filho, Jacques-Nicolas, futuro arcebispo de Rouen (1691).

Em 21 de fevereiro de 1675, o Pe. Alexandre recebeu o título de doutor na Sorbonne e tornou-se, por muitos anos, o primeiro professor ou regente de teologia do convento de Saint-Jacques. Entre seus alunos estavam o Pe. Hyacinthe Serry e o Pe. Hyacinthe Amat de Graveson. Por sua intensa atividade literária e sua posição eminente na Faculdade de Teologia de Paris, desempenhou um papel importante nos assuntos eclesiásticos de seu tempo. Proferiu discursos diante do rei e nas assembleias do clero francês, que, em reconhecimento a seus trabalhos, lhe concederam uma pensão anual de 800 libras. Envolveu-se nas controvérsias do cas de conscience (1703) e da aceitação da bula Unigenitus (1713). Em 1706, foi nomeado provincial da Província de Paris, exercendo o cargo por quatro anos. Nos últimos anos de vida, sua visão enfraqueceu devido ao intenso trabalho, e ele faleceu quase cego em Paris, em 24 de agosto de 1724.

O Pe. Alexandre era muito estimado por diversos bispos franceses e estudiosos. Gozava também de grande prestígio entre membros do Sacro Colégio, como os cardeais Noris, d’Aguirre, Casanate e Orsini (futuro Bento XIII). Atribuir-lhe tendências jansenistas é um erro. Suas doutrinas seguem a escola tomista, e ele mesmo refutou energicamente tais acusações (carta ao cardeal de Noailles, 8 de janeiro de 1703, e prefácio de sua Exposition des Évangiles, dedicada a Clemente XI). No entanto, há em algumas passagens de sua História Eclesiástica traços do galicanismo comum na França sob Luís XIV e na Sorbonne, da qual fazia parte.

II. Escritos

A atividade literária do Pe. Alexandre abrangeu quase todo o campo das ciências sagradas. Suas principais obras tratam de história eclesiástica, teologia, Sagrada Escritura e polêmica.

1. HISTÓRIA

Os eclesiásticos responsáveis pela formação teológica do filho de Colbert incentivaram Alexandre a escrever uma história eclesiástica, para a qual ele parecia particularmente qualificado. Ele aceitou a tarefa com vigor e publicou uma história do Novo Testamento até o fim do século XVI em 26 volumes in-8°, ao longo de cerca de dez anos, sob o título Selecta historiae ecclesiasticae capita, et in loca ejusdem insignia dissertationes historicae, chronologicae, dogmaticae, Paris, 1676-1686. Em 1687, esses volumes foram reeditados em Paris. Dois anos depois, ele publicou, em 6 volumes in-8°, a história do Antigo Testamento: Selecta historiae Veteris Testamenti capita, et in loca ejusdem, etc., Paris, 1689.

O Pe. Alexandre não adotou o método de narrativa contínua. Organizou seu material em uma série de dissertações, cada uma abordando fatos ou temas homogêneos, o que facilitava o estudo específico de cada questão. Essas dissertações focam especialmente nas fontes e na análise crítica de questões obscuras ou controversas. A qualidade e utilidade desse imenso trabalho garantiram-lhe grande sucesso. Quando os quatorze primeiros volumes foram publicados, o papa Inocêncio XI enviou elogios ao Pe. Alexandre por meio do cardeal Cybo (15 de julho de 1682). No entanto, os volumes seguintes, que tratavam dos conflitos entre o sacerdócio e o império nos séculos XI e XII, desagradaram a Roma devido às tendências galicanas que apresentavam. Diante da ameaça aos direitos pontifícios na França após a Assembleia do Clero de 1682, a obra do Pe. Alexandre foi condenada sob pena de excomunhão (1684-1687). Um dominicano de Lovaina, Pe. François d’Enghien, publicou um escrito contra Alexandre: Auctoritas Sedis Apostolicae pro Gregorio VII vindicata adversus Nat. Alexandrum, Colônia, 1684. Alexandre respondeu energicamente na reedição de sua história.

A censura elaborada pela comissão romana que examinou a História do Pe. Alexandre chegou às mãos deste, que então publicou uma nova edição de sua História eclesiástica, intercalando o documento censório e acrescentando explicações ou justificativas que considerou necessárias. Essa edição recebeu o título definitivo da obra: Historia ecclesiastica Veteris Novique Testamenti ab orbe condito ad annum post Christum natum millesimum sexcentesimum, et in loca ejusdem insignia dissertationes historicae, chronologicae, criticae, dogmaticae, Paris, 1699, 8 vol. in-fol. Duas outras edições seguiram, também em 8 volumes in-fol.: Paris, 1713; Paris (mas, na realidade, Veneza), 1730.

Em 1734, o Pe. Const. Roncaglia, dos Clérigos da Mãe de Deus, publicou uma nova edição em Lucca, com 9 volumes in-fol., incluindo acréscimos para corrigir os pontos que haviam desagradado à autoridade romana. Essa edição e as subsequentes ficaram isentas de censura, e o secretário do Index emitiu uma declaração especial a esse respeito em 21 de dezembro de 1748. A História eclesiástica, com as notas de Roncaglia, foi reeditada em Veneza (sob o nome de Paris), entre 1740-1744, em 18 volumes in-4°; em Ferrara, entre 1758-1762, em 9 volumes in-fol.

O célebre Pe. J. D. Mansi, da mesma congregação de Roncaglia, completou o trabalho deste e publicou uma nova edição da História de Alexandre: Lucca, 1749, 9 volumes in-fol., além de 2 volumes suplementares, que davam continuidade à história para os séculos XVII e XVIII. Essa é a edição mais estimada, tendo sido reimpressa várias vezes: Veneza, 1771, 9 volumes in-fol.; Bassano, 1778, 9 volumes in-fol., mais 2 volumes de suplemento e um terceiro publicado em 1791; Veneza, 1778-1793, 11 volumes in-fol., dos quais 2 são suplementos, edição do Pe. Zaccaria; Bingen (Bingii ad Rhenum), 1785-1790, 20 volumes in-4°, sendo os dois últimos suplementos. O Pe. F. A. Zaccaria, S.J., publicou diversas dissertações da História eclesiástica de Noël Alexandre na obra: Thesaurus theologicus in quo Nat. Alexandri, D. Petavii, I. Sirmondi, Io. Mabillon, P. Coustant, aliorumque clarissimorum virorum dissertationes theol. hist. crit. exhibentur ad ordinem Summae D. Thomae, Veneza, 1762, 14 volumes in-4°.

II. TEOLOGIA

Theologia dogmatica et moralis secundum ordinem catechismi concilii Tridentini, Paris, 1694, 10 volumes in-8°. O arcebispo de Rouen, Colbert, recomendou essa obra ao seu clero em seu mandamento pastoral de 1696. Em resposta, um anônimo (Pe. Buffier, S.J.) publicou: Difficultés proposées à Monseigneur l’archevêque de Rouen, par un ecclésiastique de son diocèse sur divers endroits des livres dont il recommande la lecture à ses curés, 1696. Alexandre respondeu com: Éclaircissements des prétendues difficultés proposées à Monseigneur l’archevêque de Rouen sur plusieurs points importants de la morale de Jésus-Christ, 1697. O arcebispo de Rouen também interveio com sua Lettre pastorale de M. l’archevêque de Rouen au sujet d’un libelle publié dans son diocèse, intitulé: Difficultés, etc., 1697. O autor do libelo, recusando-se a se retratar conforme exigido pelo arcebispo e seus superiores, foi exilado em Quimper-Corentin.

Um anônimo publicou Lettres d’une dame de qualité à une autre dame savante, Mons, 1697, em defesa do Pe. Alexandre. Em resposta, o Pe. Daniel, jesuíta, escreveu: Dix Lettres théologiques au R. P. Alexandre, où se fait le parallèle de la doctrine des thomistes avec celle des jésuites sur la morale et la grâce, Rouen, 1697. O Pe. Alexandre respondeu com: Six Lettres d’un théologien aux RR. PP. jésuites pour servir de réponse aux lettres adressées au P. Alexandre, 1697. O rei interveio, impondo silêncio aos dois debatedores. O Pe. Daniel reimprimiu suas cartas em Colônia, 1698, reivindicando a vitória. Alexandre respondeu com uma nova edição de suas cartas, das Lettres d’une dame de qualité e de outras peças sob o título: Recueil de plusieurs pièces pour la défense de la morale et de la grâce de Jésus-Christ, Delft, 1698. Existe uma tradução latina dessa obra, sem local ou data, in-4°, 142 páginas. Em 1701, Alexandre publicou: Paralipomena theologiae moralis, seu variae de rebus moralibus epistolae, Delft. Essas consultas teológicas foram incorporadas à sua teologia na edição de 1703 e nas subsequentes.

A teologia do Pe. Alexandre teve um grande número de edições, o que demonstra o sucesso que essa obra obteve. Veneza, 1698, 2 vols. in-fol. A edição de 1703, revista e completada, foi reproduzida posteriormente no mesmo estado e sob o mesmo título: Theologia dogmatica et moralis secundum ordinem catechismi concilii Tridentini in quinque libros tributa, hac postrema editione omnium accuratissima plurimis accessionibus aucta, illustrata, confirmata, locupletata, Paris, 1703, 2 vols. in-fol.; Veneza, 1705, 2 vols. in-fol.; Paris, 1714, 2 vols. in-fol.; Veneza, 1725, 2 vols. in-fol.; Paris, 1743, 4 vols. in-4°; Veneza, 1759, 2 vols. in-fol.; Paris, 1759, 2 vols. in-fol.; Paris, 1767, 4 vols. in-4°; Veneza, 1769, 2 vols. in-fol.; Einsiedeln, 1768-1772, 10 vols. in-8°; Veneza, 1770, 1771, 1772, todas em 2 vols. in-fol.; Veneza, 1783, 4 vols. in-4°. O Pe. S. M. Roselli, O. P., publicou um resumo: Natalis Alexandri theologia dogmatica et moralis in epitomen redacta, Roma, 1773, 4 vols. in-8°; Veneza, 1786; Roma, 1787, 1792, 1837, todas em 4 vols. in-8°. Fr. Basselier também publicou um compêndio: Summa Alexandrina, sive R. P. Nat. Alexandri theologiae moralis compendium absolutissimum, Roma, 1705, 4 vols. in-8°; Bassano, 1767, 2 vols. in-4°.

III. ESCRITURA SAGRADA. — Expositio litteralis et moralis sancti evangelii secundum quatuor evangelistas, Paris, 1702, 1703, 1 vol. in-fol.; Veneza, 1704, 4 vols. in-fol.; Utrecht, 1721, 1 vol. in-fol.; Paris, 1745, 1769, 2 vols. in-4°; Veneza, 1782, 2 vols. in-4°. — Commentarius litteralis et moralis in omnes epistolas sancti Pauli et in septem epistolas catholicas, Rouen, 1710, 4 vols. in-fol.; Veneza, 1772, 3 vols. in-4°; Veneza, 1788, 3 vols. in-4°. As duas obras foram publicadas juntas em Paris, 1745 e 1746.

IV. ESCRITOS POLÊMICOS. — 1° Dissertationum ecclesiasticarum trias. Prima de divina episcoporum supra presbyteros eminentia adversus Blondellum. Altera de sacrorum ministrorum celibatu, sive de historia Paphnutii cum Niceno canone concilianda. Tertia de vulgata Scripturae sacrae versione, Paris, 1678, 4 vols. in-8°. — 2° Dissertatio polemica de confessione sacramentali adversus libros quatuor Johannis Dallæi calvinistae divinam ejus institutionem et usum in Ecclesia perpetuum impugnantis, Paris, 1678, 4 vols. in-8°. — 3° Dissertatio ecclesiastica, apologetica et critica adversus F. Claudium Frassen, seu Dissertationis Alexandrinae de vulgata Scripturae sacrae versione vindiciae, Paris, 1682, 1 vol. in-8°. — 4° Dissertationes historicae et criticae, quibus officium venerabilis sacramenti S. Thomae vindicatur contra RR. PP. Henschenii et Pappebrochii conjecturas. Deinde titulus praeceptoris S. Thomae ex elogio Alexandri Halensis expungitur contra popularem opinionem. Accedit panegyricus angelici doctoris dictus, Paris, 1680, 4 vols. in-8°. — 5° Apologie des dominicains missionnaires de la Chine, en réponse au livre du P. Le Tellier, jésuite, intitulé: Défense des nouveaux chrétiens et à l’éclaircissement du P. Le Gobien, de la même compagnie, sur les honneurs que les Chinois rendent à Confucius et aux morts, par un religieux, docteur et professeur en théologie de l’ordre de Saint-Dominique, Colônia, 1699, in-12. Alexandre acrescentou a essa apologia os Documenta controversiam missionariorum apostolicorum, etc. Edição em italiano, Colônia, 1699, 4 vols. in-8°. — 6° Conformité des cérémonies chinoises avec l’idolâtrie grecque et romaine, pour servir de confirmation à l’apologie des dominicains missionnaires de la Chine, par un religieux, docteur et professeur en théologie, Colônia, 1700, in-12. Tradução italiana, Colônia, 1700. — 7° Lettre d’un docteur de l’ordre de Saint-Dominique sur les cérémonies de la Chine, etc.. Ela foi seguida de seis outras, 1700. Foram publicadas em italiano no mesmo ano, em Colônia. Clemente XI condenou, em 19 de março de 1705, a prática das cerimônias chinesas.

Citemos ainda entre outras obras editadas pelo Pe. Alexandre: Institutio concionatorum tripartita, seu praecepta et regulae ad praedicatores informandos cum ideis sive rudimentis concionum per totum annum, Delft, 1701, 1 vol. in-8°; Paris, 1702, in-8°; Veneza, 1731, in-4°; Augsburg, 1763, in-8°.

Catálogo completo das obras do Pe. Alexandre, Paris, 1716; Quétif-Echard, Scriptores ordinis praedicatorum, Paris, 1719-21, t. II, p. 810; A. Touron, Histoire des hommes illustres de l’ordre de Saint-Dominique, Paris, 1743, t. V, p. 805. Esta biografia de Touron foi traduzida para o latim na edição da Hist. eccles., Veneza, 1778, t. III. Veja também t. I do Supplément. Dupin, Histoire ecclésiastique du XVIIe siècle, Paris, 1714, t. IV, p. 418; Hurter, Nomenclator literarius, 2ª ed., t. I, col. 1136; Kirchenlexicon, 2ª ed., I, 501; Dollinger-Reusch, Geschichte der Moralstreitigkeiten, Nördlingen, 1889, t. I, p. 617; Reusch, Der Index der verbotenen Bücher, Bonn, 1885, t. II, p. 584.

P. MANDONNET.