ALEXANDRE, bispo de Hierápolis.
I. Seu papel no Concílio de Éfeso.
II. Sua resistência aos decretos de Éfeso com João de Antioquia e Teodoreto.
III. Sua obstinação definitiva no cisma e na heresia.
I. SEU PAPEL NO CONCÍLIO DE ÉFESO.
Alexandre já devia ocupar a sé metropolitana de Hierápolis, na Síria Eufratense, em 404, pois, desde então, já o vemos excomungando um certo Juliano, acusado de apolinarismo (Baluze, Nova Collectio Conciliorum, p. 867).
O imperador Teodósio convocou o Concílio de Éfeso para tratar dos erros de Nestório. Duzentos bispos compareceram. Alexandre de Hierápolis chegou no dia 20 de junho de 431 e, de imediato, conspirou para que a abertura do concílio não ocorresse antes da chegada de João de Antioquia e seus partidários. Junto com vários bispos, assinou um documento solicitando formalmente esse adiamento (Lupus, Epist., VII, p. 26; Labbe, Concil., t. III, col. 552, 660, 662; Baluze, p. 697-699). O concílio, no entanto, prosseguiu e realizou sua primeira sessão em 22 de junho, na qual Nestório foi condenado e deposto. No dia 27, João de Antioquia chegou com cerca de trinta aliados. Assim que desembarcaram, reuniram-se num conciliábulo com outros treze bispos devotos a Nestório. O metropolitano de Hierápolis votou pela deposição de São Cirilo de Alexandria e de Mêmnon, bispo de Éfeso, além de rejeitar como heréticos os Anátemas de São Cirilo. Enquanto isso, chegaram os três legados do Papa São Celestino. Na quarta sessão, após uma queixa de Cirilo e Mêmnon, o concílio excomungou João de Antioquia, Alexandre de Hierápolis e todos os bispos do conciliábulo (Labbe, t. III, col. 764; Baluze, p. 507).
II. SUA RESISTÊNCIA AOS DECRETOS DE ÉFESO COM JOÃO DE ANTIOQUIA E TEODORETO.
No encerramento do concílio, Alexandre assinou o relatório que Nestório enviou ao imperador, reclamando que a assembleia não havia esperado a chegada de João de Antioquia (Labbe, t. III, col. 598). Em seguida, iniciou uma verdadeira campanha, lutando ferozmente para defender o erro nestoriano da maternidade puramente humana de Maria e acusar São Cirilo de apolinarismo. Primeiro, trocou correspondências com Acácio de Berréia, informando-o dos eventos de Éfeso (Baluze, p. 714, 763). Depois, em agosto, quando os dois lados decidiram apresentar suas questões ao imperador, nomeou seu amigo Teodoreto para representá-lo. Foi o primeiro a ratificar o poder absoluto concedido pelos orientais dissidentes a Teodoreto e outros sete deputados, com a condição expressa de que os atos do conciliábulo de João fossem aprovados, enquanto os do concílio legítimo e os Anátemas de Cirilo fossem anulados e rejeitados (Labbe, t. III, col. 725).
Ao retornar à sua sé, Alexandre recebeu uma carta de Teodoreto relatando o fracasso da missão junto ao imperador e a má recepção por parte do povo (Labbe, t. III, col. 732-733). Enquanto isso, Alexandre consultou um padre de Constantinopla, Partênio, que lhe enviou duas cartas lamentando as tribulações dos seguidores do “mártir Nestório” e confirmando sua fé (Baluze, p. 853, 866). Pouco depois, Alexandre uniu-se aos deputados orientais em Tarso, onde João de Antioquia convocou um concílio. Com essa assembleia, Alexandre assinou uma nova sentença de deposição contra São Cirilo e contra os sete bispos fiéis enviados a Calcedônia (Labbe, t. III, col. 769, 906; Baluze, p. 840, 843, 874). Alexandre renovou essa sentença e a promessa de nunca aceitar a deposição de Nestório no Concílio de Antioquia, convocado por João por volta de meados de dezembro de 431. Além disso, assinou uma petição ao imperador Teodósio pedindo a ratificação da condenação dos Anátemas de São Cirilo (Socrate, Hist. Eccl., VIII, c. XXXIV, P.G., t. LXVII, col. 813; Baluze, p. 906).
No início de 432, o imperador enviou a Antioquia o tribuno Aristolaus para resolver o cisma. João imediatamente convocou Alexandre e outros aliados para uma reunião privada, onde redigiram seis proposições a serem apresentadas a São Cirilo como base para a reconciliação (Baluze, p. 764). A única dessas proposições que conhecemos afirma que se manteriam fiéis ao Credo de Niceia e rejeitariam todas as cartas e documentos que levaram à controvérsia atual. Alexandre comunicou essas decisões ao velho Acácio de Berréia. Uma nova assembleia acrescentou mais quatro artigos às seis proposições já adotadas, e tudo foi levado a São Cirilo por Aristolaus. Cirilo estava disposto a reafirmar sua adesão ao Credo de Niceia, mas achou inaceitável a exigência de renunciar a tudo o que havia escrito contra o nestorianismo (Labbe, t. III, col. 114, 1151, 1157; t. IV, col. 666; Baluze, p. 786). Essa resposta foi bem recebida por Acácio, João e aqueles que realmente desejavam a paz na Igreja. No entanto, desagradou profundamente a Alexandre e Teodoreto (Baluze, p. 757, 782). Essa primeira deserção de seus aliados mergulhou Alexandre em grande aflição, expressa em uma carta extremamente violenta a André de Samosata (Baluze, p. 764-765). Mas quando, em abril de 433, João e os principais bispos orientais assinaram a paz e anatematizaram as heresias de Nestório, a fúria do velho metropolitano de Hierápolis não conheceu mais limites.
III. SUA OPINIÃO DEFINITIVA
Alexandre soube da reunião por uma carta pessoal de João, que o implorava para não atrasar mais a paz da Igreja. Ao receber essa mensagem, escreve a André de Samosata e a Teodoreto que João deixou de ser um verdadeiro bispo e o exclui de sua comunhão. Baluze, p. 789, 800. Em vão, esses dois amigos multiplicam seus apelos, sempre corteses e cheios de respeitosa afeição. Alexandre os rejeita com o mais insultuoso desprezo: que façam o que quiserem, traiam a fé se assim desejarem e retornem à comunhão com o egípcio; quanto a ele, jamais se resignará a tal impureza. Prefere o exílio, a morte, as feras, a fogueira, a qualquer comunhão com o herege. Baluze, p. 768, 775, 799-800, 809-810. Em vão, Teodoreto o pressiona, em uma linguagem filial, a comparecer ao concílio de Zeugma com André de Samosata para deliberar sobre as condições da paz. O concílio teve que ocorrer sem ele, e a perfeita ortodoxia de São Cirilo foi reconhecida. Alexandre se irritou ainda mais. Maximin de Anazarbo até condenou Cirilo e os bispos fiéis, mas isso era muito pouco para compensar a deserção de João e dos numerosos prelados que o seguiam, além da aprovação dada pela Santa Sé ao Concílio de Éfeso. Assim, quando André, que se uniu a Cirilo, insiste com suavidade e firmeza para trazê-lo de volta, o velho se recusa a responder e o exclui de sua comunhão. Baluze, p. 804, 810, 816.
Pouco depois, é Teodoreto quem também faz as pazes e renova suas tentativas caridosas junto ao metropolita de Hierápolis. Recebe uma resposta insolente: “Acredito que você não deixou de fazer nada pelo bem da minha pobre alma; você até fez mais do que o bom pastor do Evangelho, que procurou a ovelha perdida apenas uma vez. Portanto, fique em paz e pare de se cansar e nos cansar também.” Ainda em vão, Teodoreto lhe informa sobre a reunião da Cilícia e da Isáuria. Baluze, p. 865, 867. O prelado, cada vez mais cego, implora para que o deixem em paz. A partir de então, passa a evitar a vista, a conversa e até mesmo a lembrança de todos aqueles que tentam falar com ele sobre o assunto, considerando-os como simpatizantes do Egito, que só queriam tentá-lo e derrubá-lo. Baluze, p. 878-879.
Dois fatos agravaram ainda mais seu afastamento. João acreditou que deveria usar seu poder patriarcal para sagrar bispos na Síria Eufratense. Além disso, Alexandre, tendo erguido, com grandes sacrifícios, uma igreja em honra de São Sérgio, viu surgir ao redor do santuário toda uma cidade, Sergiópolis. No entanto, sem sequer consultar o fundador, João ordenou um bispo para essa nova igreja. O metropolita e seus sufragâneos protestaram veementemente, tanto contra o que chamaram de interferência abusiva em seus direitos quanto contra a escolha dos ordenados. Baluze, p. 830-833, 837-838, 865.
Entretanto, foi apontado a Pulquéria e a Teodósio que a principal barreira para a paz era a obstinação de Alexandre e seus seguidores. Assim, um decreto imperial ordenou que os dissidentes ou se reunissem ao patriarca de Antioquia ou deixassem seus cargos. A ordem foi primeiro aplicada contra Doroteu, Mélécio de Mopsuéstia e alguns outros. Mas João hesitava em aplicar essa medida extrema a seu antigo amigo e, mais uma vez, enviou Teodoreto para convencê-lo, sem sucesso. Apesar desse fracasso, Teodoreto ainda aconselhava paciência: as consequências de uma severidade excessiva poderiam ser desastrosas; o velho era geralmente visto como um defensor fiel da verdade; admiravam sua coragem e reverenciavam universalmente sua piedade; um cisma poderia surgir disso. Baluze, p. 871. Assim, o patriarca decidiu fazer uma última tentativa, enviando uma delegação de prelados para visitar o bispo de Hierápolis. Eles não conseguiram convencê-lo. Baluze, p. 883-886.
Ver os documentos sobre o Concílio de Éfeso e os historiadores do nestorianismo: Lupus, Epist.; Labbe, Concil., t. III; Baluze, Nova collect. concil.; G. Cave, De scriptor. eccles., Genebra, 1720, p. 269; dom Ceillier, Hist. des aut. eccles., 2ª ed., Paris, 1861, t. VIII, p. 374-380; Kbedjesu, Catal. script. eccles., 130, em Assémani, Biblioth. orient., t. IIIa, p. 197; Pagi, Crit. annal. Baron., an. 433, 7-8, 13; an. 434, 8, 10; an. 435, 9-11; Lllies Dupin, Biblioth. des aut. ecclés., t. I, p. 675; Tillemont, Mém. ecclés., t. XLV, XV; Hefele, Hist. des conciles, trad. Leclercq, Paris, 1908, t. II, p. 295 sq.; Smith e Wace, A Dictionary of Christian Biography, Londres, 1877, v. "Alexander".
H. QUILLIET