ALEMBERT (Le Rond d’) Jean, um dos matemáticos mais célebres e um dos filósofos mais influentes do século XVI, nasceu em Paris em 1717 e morreu na mesma cidade em 1783.
— I. Vida e papel. II. Obras e ideias.
I. VIDA E PAPEL
Aluno do colégio Mazarin de 1729 a 1736, onde os professores, quase todos padres jansenistas, o destinavam a se tornar um brilhante inimigo dos jesuítas, ele inicialmente frustrou as expectativas de seus mestres e se dedicou à matemática. Essa escolha lhe rendeu consideração universal: em 1742, ingressou na Academia de Ciências e, em 1746, foi nomeado membro da Academia de Berlim. (Sobre d’Alembert como matemático, ver J. Bertrand, D’Alembert, Paris, 1889.)
Mas logo ele se destacou entre os filósofos, ou seja, entre os inimigos não apenas dos jesuítas, mas também da doutrina e da atuação da Igreja. Sob esse aspecto, o papel de d’Alembert foi significativo. De 1751 a 1761, ele compartilhou com Diderot a imensa tarefa da Enciclopédia. Além de ser responsável pela redação e revisão dos artigos matemáticos e de alguns outros, ele escreveu os manifestos: o Discurso Preliminar (1751), que contribuiu poderosamente para o sucesso do livro, e o Aviso do volume II, resposta aos primeiros ataques, são de sua autoria.
Seu nome servia tanto como propaganda quanto como proteção. Isso foi especialmente verdadeiro a partir de 1754, quando d’Alembert entrou para a Academia Francesa, pois o título de acadêmico conferia status de privilegiado. Para os enciclopedistas, ele se tornou um líder, ao lado de Diderot e Voltaire. No entanto, em 1761, ele se retirou da Enciclopédia, cansado das lutas a enfrentar e em desacordo com Diderot, que queria continuar, mas amenizando o tom. “É melhor que a Enciclopédia não exista do que se tornar um repositório de banalidades monásticas”, dizia d’Alembert.
Ainda assim, ele continuou sendo um dos grandes expoentes do movimento e sua guerra contra “a superstição” permaneceu ativa. Como secretário perpétuo da Academia Francesa, exaltava a razão em seus Elogios e garantia a eleição de candidatos filósofos. Por fim, chamado por vários soberanos, mas recusando-se a deixar Paris por motivos secundários, ele transformava tudo em glória para a filosofia: às “perseguições” do governo real na França, ele contrastava os favores que os maiores soberanos concediam aos filósofos.
II. OBRAS E IDEIAS
Esse foi seu papel: ele supera em muito suas obras e ideias. Não se pode atribuir a d’Alembert nenhuma das grandes ideias do século XVIII. Ele compartilha as ideias comuns da época, mas com fanatismo. Sobre a alma e Deus, seu ceticismo é total. Como Voltaire, ele diz: “Esmaguemos a infame”, mas com ainda mais violência. Isso fica evidente em sua Correspondência com Voltaire e Frederico II (Obras Literárias, Paris, 1821, vol. V). No entanto, isso só se percebe claramente ali.
D’Alembert tinha um ensino exotérico. Nos livros destinados ao público, ele não atacava diretamente; temia as consequências. Dois de seus escritos são mais importantes aqui: o Discurso Preliminar e o artigo Genebra, na Enciclopédia, além dos Elementos de Filosofia.
O Discurso Preliminar atendia ao duplo propósito da obra: ao mesmo tempo enciclopédia e dicionário racional. Ele se divide em duas partes. Na primeira, inteiramente metafísica, ele expõe sua concepção sobre a origem do conhecimento humano e a ordem lógica em que o homem o adquiriu. Não existem ideias inatas. Todo conhecimento vem dos sentidos. Mas o homem não permanece passivo diante das informações sensoriais: tem necessidades que o impulsionam e um método inato que o faz progredir continuamente. Assim, suas três faculdades — memória, razão e imaginação — estruturam a “árvore enciclopédica” do conhecimento humano, com três grandes ramos: história, filosofia e belas-artes.
A alma, ou substância imaterial que deseja e concebe em nós, e Deus, ou inteligência suprema, são conhecidos pela razão. Mas a razão não é suficiente para afirmar: “Nada nos é mais necessário do que uma religião revelada.” No entanto, essa religião “se limita ao que é absolutamente essencial... a algumas verdades a serem acreditadas e a alguns preceitos morais”. Isso não é conceder-lhe muito.
Na segunda parte, d’Alembert expõe o progresso histórico do espírito humano nos últimos três séculos, desde o Renascimento. Como era de se esperar, ele trata a Idade Média como um “longo período de ignorância” e um “tempo obscuro”, pois “somente a liberdade de agir e pensar é capaz de produzir grandes feitos”. Classifica a escolástica como uma “falsa ciência” e uma “filosofia bárbara”, pois “o abuso da autoridade espiritual unida à temporal forçava a razão ao silêncio”. Mas o Renascimento trouxe de volta “a luz”. Partindo da erudição e avançando pelas belas-letras, o espírito humano finalmente alcançou sua luz suprema: a filosofia. Mas não a de Descartes, e sim a de Bacon — de quem d’Alembert admite ter tomado emprestado o conceito da árvore enciclopédica —, a filosofia de Locke e Newton.
O artigo Genebra (Enciclopédia, vol. VII, outubro de 1757) causou muitos problemas para d’Alembert. Como ele criticava Genebra por “não tolerar o teatro”, Rousseau respondeu com a Carta sobre os Espetáculos (Amsterdã, 1758, in-8º), e uma longa polêmica se seguiu. D’Alembert também elogiava os pastores de Genebra por se considerarem “meros oficiais da moral”, por “não imporem crenças que chocassem a razão” e por terem “atingido uma espécie de socinianismo perfeito”. Isso gerou fortes protestos dos pastores genebrinos. Na França, percebeu-se que d’Alembert traçava o retrato do sacerdote ideal segundo os enciclopedistas. O artigo tornou-se um ponto de conflito para a Enciclopédia, e d’Alembert declarou que as perseguições sofridas eram “dignas da Inquisição de Goa”.
Os Elementos de Filosofia (Paris, 1759) e os Esclarecimentos que vieram depois (1761) confirmam e detalham as ideias do Discurso Preliminar. No entanto, o ceticismo de d’Alembert se revela ainda mais claramente. Apenas a álgebra fornece certeza absoluta. No domínio da sensação e da consciência, a única certeza vem do instinto. Na metafísica, só há questões “insolúveis e frívolas”. Na religião, há “dogmas impenetráveis que a razão, diz ele, não nos permite questionar”, mas sua verdadeira posição se insinua: “Logo, lê-se, o estudo da geometria levará naturalmente ao da física correta, e esta à verdadeira filosofia, que, pela luz que lançará, será em breve mais poderosa do que todos os esforços da superstição.”
Por fim, vale mencionar a Carta a M. de ***, Conselheiro do Parlamento, sobre a Destruição dos Jesuítas, por um Autor Desinteressado (Paris, 1765, in-12), à qual se somaram duas outras cartas em 1767. Nelas, d’Alembert aplaude a dissolução da ordem jesuíta na França. Vai além. Como os jesuítas, condenados com base em uma extensa coletânea de afirmações extraídas de seus próprios escritos por ordem do Parlamento, reclamavam, ele escreve: “Mesmo que sua queixa fosse justa... a coletânea terá produzido o bem que a nação desejava: o aniquilamento dos jesuítas.” E em outro trecho, afirma: “Toda sociedade religiosa que se torna inquietante deve ser eliminada pelo Estado; é um crime para ela ser temida.”
Em 1753, d’Alembert reuniu sob o título Mélanges de littérature, de philosophie et d’histoire (Paris, 2 volumes in-12) o Discurso Preliminar, um Ensaio sobre os Homens de Letras e outros textos. Acrescentou a essa coletânea, ao longo do tempo, algumas obras, como os textos relacionados à polêmica gerada pelo artigo Genebra. A última edição, com 5 volumes in-12, é de 1783.
As Obras Literárias Completas de d’Alembert, incluindo sua Correspondência com Voltaire e Frederico II, foram publicadas em Paris por Bastien (1805, 18 volumes in-8º) e por Belin (1821, 5 volumes in-8º).
Outras referências: Lettres de Mme du Deffand, ed. Lescure, Paris, 1865, 2 volumes in-8º, t. 1; Correspondance de Mlle de Lespinasse, ed. E. Asse, Paris, 1876, in-12; Lettres inédites de Mlle de Lespinasse à d'Alembert et à Condorcet, Paris, 1887, in-8º; Correspondance de Frédéric II, Œuvres complètes, Berlim, 1846-1857, 31 volumes in-4º, t. XI-XXV; Grimm, Diderot, Raynal e Meister, Correspondance littéraire, philosophique et critique, Paris, 1877-1882, 16 volumes in-18; Condorcet, Éloge de d’Alembert, na coletânea de seus Éloges académiques, Œuvres complètes, ed. Arago, Paris, 1847-1849, 12 volumes in-8º; J. Bertrand, D’Alembert, Paris, 1889, in-16, na Collection des grands écrivains français; Barni, Histoire des idées morales et politiques en France au XVIIIᵉ siècle, Paris, 1865-1866, 2 volumes in-8º; L. Brunel, Les philosophes et l’Académie française au XVIIIᵉ siècle, Paris, 1884, in-8º.
C. Constantin.