Aguirre, José Sáenz de



AGUIRRE (d’) Joseph Sáenz, nascido em Logroño, na Velha Castela, em 24 de março de 1630, entrou na Congregação do Monte Cassino, da ordem de São Bento. Religioso tão erudito quanto piedoso, dirigiu, durante quinze anos, os estudos no mosteiro de São Vicente de Salamanca, do qual era membro e onde se tornou abade. Posteriormente, foi chamado para ensinar na Universidade de Salamanca, onde ocupou inicialmente a cadeira de teologia dogmática, depois a de Escritura Sagrada, que inaugurou. Foi também conselheiro e secretário da Inquisição Espanhola e presidente geral de sua congregação na província da Espanha. Sua obra contra a Declaração do clero galicano de 1682 lhe rendeu o chapéu de cardeal. No consistório de 2 de setembro de 1686, Inocêncio XI o elogiou ao honrá-lo com a púrpura. O cardeal d’Aguirre, vinculado ao título da Minerva, foi membro das S.C. do Concílio, do Índice e do Santo Ofício. Sua correspondência com Bossuet revela que ele participou ativamente na condenação do quietismo. Sua dedicação excessiva ao trabalho minou sua saúde e provocou crises de epilepsia que sofreu durante vários anos em Roma e Nápoles. Estava curado em 1698, mas morreu em 19 de agosto de 1699, vítima de uma apoplexia súbita; foi sepultado na igreja de São Tiago de Roma, que pertence aos espanhóis, e, conforme seu desejo, seu coração foi depositado no Monte Cassino.

Suas principais obras são filosóficas ou teológicas. No campo filosófico:

1° Philosophia novo-antiqua, rationalis, physica et metaphysica, quaecumque in scholis tractari solet ad mentem Aristotelis et D. Thomae adversus recentes utriusque impugnatores, 3 vols. in-fol., Salamanca, 1671, 1672 e 1675. Trata-se de um comentário de diversos livros de Aristóteles;

2° Philosophia morum, sive libri X Ethicorum Aristotelis ad Nicomachum commentariis illustrati, in-fol., Salamanca, 1677; Roma, 1698. Mais tarde, o autor se repreendia por ter louvado excessivamente certas figuras nesses quatro volumes, chegando às vezes à adulação;

3° De virtutibus et vitiis disputationes ethicae in quibus disseritur quicquid spectat ad philosophiam moralem ab Aristotele traditam, in-fol., Salamanca, 1677; 2ª ed., aumentada e corrigida, Roma, 1697; 3ª ed., Roma, 1717. O tema é abordado sob um ponto de vista puramente filosófico, segundo Aristóteles; o autor aplicava ali os princípios do probabilismo, que mais tarde abandonou.

No campo teológico, mencionamos:

Ludi Salmanticenses, sive theologia florentula, in-fol., Salamanca, 1668. São dissertações sobre os bons e maus anjos, especialmente sobre os anjos da guarda, que ele compôs para obter o título de doutor. Longe de seguir o método escolástico, ele enriqueceu suas teses com erudições da literatura sagrada e profana. Mais tarde, o cardeal ele próprio criticou esta obra na segunda edição de sua Theologia de Santo Anselmo. Ele se repreende por ter tratado alguns pontos de maneira menos séria do que convinha, por ter dado louvores excessivos a pessoas vivas, por ter atribuído demasiada autoridade à opinião de um único doutor piedoso e erudito, por ter acreditado nas histórias inventadas de Dexter, Máximo, Luitprando e Julião de Perez e, por fim, por ter transcrito incorretamente textos gregos. A morte o impediu de publicar uma edição corrigida;

2° S. Anselmi archiepiscopi Cantuariensis theologia, commentariis et disputationibus tum dogmaticis tum scholasticis illustrata, 3 vols. in-fol., Salamanca, 1678-1681; 2ª ed. mais completa, mas com falhas, Roma, 1688-1690. Aqui, o erudito religioso une as discussões sutis dos teólogos escolásticos às provas positivas da Escritura, dos concílios e dos Padres contra os ateus, pagãos, judeus, hereges e cismáticos; é por isso que chama sua obra de “Pentateuco da fé”. Os dois primeiros volumes contêm o comentário do Monologium de Santo Anselmo até o capítulo LXVI; constituem dois tratados importantes e eruditos De Deo uno e De Deo trino. O tratado sobre a Trindade supera ainda o primeiro. O terceiro volume trata De natura hominis pura et lapsa, especialmente contra os erros jansenistas. Foi muito ampliado na segunda edição e, segundo o julgamento do autor, cuidadosamente corrigido em relação a certas opiniões;

3° Auctoritas infallibilis et summa cathedrae sancti Petri, extra et supra concilia quaelibet atque in totam Ecclesiam, denuo stabilita, sive defensio cathedrae sancti Petri adversus Declarationem nomini illustrissimi Cleri Gallicani editam Parisiis, in-fol., Salamanca, 1683. Assim que o Pe. d’Aguirre tomou conhecimento da Declaração da assembleia do clero da França em 1682, percebeu que ela estava em oposição com a doutrina da antiguidade cristã e, em particular, com a antiga doutrina da Igreja galicana. Ele apressou-se em estudar os documentos e compôs em seis meses uma erudita refutação dos quatro artigos. Ele se desculpou por essa pressa, que poderia ter deixado passar erros. Bossuet, Gallia orthodoxa, previa dissert., n. 3, 34, 94, et 1. V, c. II; Œuvres, Besançon, 1836, t. XI, p. 10-11, 24-25, 57, 246, menciona elogios e discute algumas passagens;

4° Collectio maxima conciliorum omnium Hispaniae et novi orbis, epistolarumque decretalium celebriorum, necnon plurium monumentorum veterum ad illam spectantium, cum notis et dissertationibus, quibus sacri canones, historia ac disciplina ecclesiastica et chronologia accurate illustrantur, 4 vols. in-fol., Roma, 1693-1694. O autor publicou, como prospecto, uma espécie de índice ou sinopse, Notitia conciliorum Hispaniae atque novi orbis, epistolarum decretalium et aliorum monumentorum sacrae antiquitatis ad ipsam spectantium, magna ex parte hactenus ineditorum, in-8°, Salamanca, 1686, para chamar a atenção dos estudiosos, esperando que lhe apontassem lacunas em seu projeto e lhe comunicassem os documentos que lhe faltavam. No entanto, ao executar sua obra, ele fez algumas modificações em seu programa; não publicou todas as peças indicadas, pois não pôde decifrar algumas, reproduzidas em antigos manuscritos desgastados, e inverteu a ordem de classificação. Uma longa introdução, dividida em três partes, está no início da coleção. A primeira parte, que compreende nove dissertações, comenta o prefácio da coleção pseudo-isidoriana.

O cardeal reivindica para São Isidoro de Sevilha essa coleção, atribuída a Isidoro Mercador. Ele também disserta sobre as coleções canônicas anteriores, sobre os cânones apostólicos, sobre o número de cânones emitidos pelo concílio de Niceia e sobre os concílios realizados na Espanha durante os três primeiros séculos de nossa era pelos discípulos e sucessores do apóstolo São Tiago. A segunda parte é dedicada a explicar as decretárias pontificais relativas à Espanha e contidas na coleção pseudo-isidoriana. O cardeal d’Aguirre as considera autênticas, embora o texto tenha sido alterado. A terceira parte aborda a ordem seguida nos concílios espanhóis, o papel que desempenham os reis e a data do concílio de Elvira e dos que o seguiram. O segundo volume também contém numerosas notas e dissertações eruditas; mas o terceiro e o quarto reproduzem simplesmente os atos dos concílios espanhóis, e a obra termina com os do sínodo de Lima em 1604. Esta coleção é valiosa pelos numerosos documentos que contém; no entanto, seu autor tem mais erudição do que senso crítico. Joseph Catalani publicou uma segunda edição, 6 vols. in-fol., Roma, 1753-1756, mais completa, mas menos correta que a primeira. Duas dissertações sobre o terceiro concílio de Toledo e sobre a penitência dos clérigos na antiguidade foram reproduzidas em Doctrina de administrando sacramento poenitentiae, in-8°, Rouen, 1704.

O cardeal d’Aguirre também financiou a edição da Bibliotheca hispana vetus, 2 vols. in-fol., Roma, 1696, de seu amigo Nicolás Antonio. A morte o impediu de publicar outras obras que havia preparado: um volume de cartas escritas a príncipes e eruditos, dois volumes de miscelâneas, discursos de Santo Anselmo com notas e um escrito para provar que o beneditino João Gersen é o verdadeiro autor da Imitação.

Bayle, Dictionnaire historique et critique, Rotterdam, 1697, t. I, p. 139-140; Collectio maxima conciliorum, 2ª ed., Roma, 1753, t. I, p. 1-32; Dupin, Bibliothèque des auteurs ecclésiastiques, t. XXI, Paris, 1719, p. 273-276; Nicéron, Mémoires, t. I, p. 219-225; Ziegelbauer, Historia rei litterariae ordinis S. Benedicti, t. II, p. 98; Eggs, Purpura docta, l. VI, n. 99, p. 538; Hurter, Nomenclator, Innsbruck, 1893, t. II, col. 521-526; Kirchenlexikon, Friburgo em Brisgóvia, 1882, t. I, p. 366-367.

E. MANGENOT.