Aos pregadores uma simples observação



Aos Pregadores uma simples observação

Tem-se escrito muito sobre a eloquência... ao ponto que certas pessoas julgam que a arte da eloquência consiste em escrever um belo discurso, em decorá-lo e recitá-lo com firmeza.

A verdadeira eloquência não consiste nisto; ela vem de mais alto e de mais longe.

Para o êxito, duas qualidades são exigidas da parte do pregador, e duas da parte do discurso.

I. Da parte do pregador

O pregador deve estar convicto do que diz e deve amar as pessoas que o escutam.

A convicção pessoal do pregador é o primeiro elemento do bom resultado na pregação.

Tal convicção se manifesta desde o princípio, pelo tom incisivo e firme com que se enuncia o assunto. É preciso lançar a verdade, como de um só jato, em palavras vivas e fortemente destacadas.

A convicção dá essa qualquer coisa de vigoroso, de penetrante, que fixa o espírito do auditor e excita nele o desejo de conhecer mais a fundo a verdade.

O amor ao auditório é o segundo elemento de sucesso.

É preciso que o auditor sinta que o pregador quer fazer-lhe bem.

Trata-se de ganhar os corações e de entregá-los a Deus.

Só a caridade sabe descobrir os caminhos misteriosos que conduzem ao coração.

É sempre eloquente quem quer salvar as almas.

É sempre escutado com satisfação quem ama.

É o segredo da palavra viva e eficaz.

Aí está a magia da eloquência sacra!

Que belo exemplo nos oferece S. Paulo!

A sua pregação é a efusão de uma alma repleta de caridade e de verdade, destacando habilmente os vícios e os erros das pessoas, fulminando o mal e estendendo a sua mão paterna aos que o cometeram.

II. Da parte do discurso

A popularidade:

O discurso deve ser popular e claro.

O sacerdote é o homem do povo, e a sua palavra deve ser compreendida por todos.

A eloquência acadêmica é uma profanação da eloquência sacra.

O grande modelo a imitar é, e sempre será, a palavra de Jesus Cristo.

Nunca homem falou como este homem”, diziam os judeus; e nós podemos acrescentar: Nunca o homem falará melhor do que aquele que mais se aproximar da linguagem de Jesus Cristo.

A clareza:

É a segunda qualidade do discurso; clareza na expressão e no sentimento.

O povo nada entende das abstrações especulativas da razão. É mister conduzi-lo, do conhecido ao desconhecido, do sensível da religião às altas verdades dos dogmas.

A palavra clara agrada a todos e faz o bem a todos, enquanto a fraseologia bombástica diverte alguns espíritos, mas não penetra no coração.

O tom narrativo é o mais claro e o mais compreensível para o povo: é uma espécie de dramatização da verdade a expor.

É o método do Evangelho... narra e discute pouco; expõe, torna a verdade sensível pelas comparações e parábolas, e deixa o ouvinte tirar a conclusão pessoal.

Preguemos o Evangelho com convicção e amor.

Seja a nossa palavra popular e clara.

E o êxito será esplêndido, ultrapassando toda expectativa.

P. J. M