AERIUS, AERIENSES. Aérius, natural do Ponto, era compatriota e amigo de Eustácio, futuro bispo de Sebaste na Armênia, com quem viveu algum tempo praticando o ascetismo. Quando Eustácio se tornou bispo (355), ele ordenou Aérius sacerdote e lhe confiou a direção do hospital ou xenodochium em sua cidade episcopal, que no Ponto era comumente chamado ptochotrophium. Logo surgiu uma rivalidade entre os dois antigos amigos, que se transformou em luta aberta. Aérius acusava seu bispo de abandonar suas resoluções de vida ascética e se dedicar à busca de dinheiro e bens terrenos. Não se sabe qual foi o papel da inveja e da ambição frustrada na atitude de Aérius. Ele abandonou seu hospital (por volta de 360) e começou a pregar por conta própria. São Epifânio, que nos informa sobre a seita dos aerianos, resume a doutrina de seu líder nos seguintes pontos:
1º Não há diferença entre o sacerdote e o bispo, que pertencem à mesma ordem e têm a mesma dignidade. Ambos impõem as mãos, batizam e realizam as diversas funções do culto.
2º A celebração da festa da Páscoa é um costume judaico que deve ser abolido. Ele invocava o texto de I Coríntios 5, 7.
3º Da mesma forma, os jejuns prescritos por uma lei são condenáveis.
4º As orações pelos mortos são inúteis.
De acordo com essas informações, não parece que Aérius tivesse outras opiniões diferentes das de Eustácio sobre a divindade de Jesus Cristo e o arianismo. Ele provavelmente era semi-ariano, como o próprio Eustácio. Alguns críticos pensam que ele rejeitava apenas o jantar pascal conforme o costume judaico, que talvez ainda fosse mantido nessas regiões da Ásia Menor. Mas a refutação de São Epifânio indica mais que ele rejeitava a própria festa, juntamente com os jejuns prescritos como preparação. Aérius não condenava o jejum em si; teoricamente, ele permanecia fiel aos princípios do ascetismo cristão, mas não aceitava os jejuns impostos aos fiéis, que não fossem praticados espontaneamente. Para protestar contra uma obrigação que consideravam indigna da lei de amor e liberdade, os partidários de Aérius passavam a Semana Santa com diversas comemorações e banquetes. Quanto à oração pelos mortos, que ele considerava inútil, também temia que ela servisse de pretexto para que os vivos negligenciassem sua própria salvação. Os teólogos do século XVI, especialmente Belarmino, aproximaram as teorias protestantes de certas teorias muito semelhantes às dos aerianos.
O sucesso de Aérius foi considerável em Sebaste e na região: quando as admoestações do bispo o fizeram deixar seu hospital, ele arrastou consigo um grande número de fiéis, de ambos os sexos, que, para evitar perseguições, frequentemente realizavam suas reuniões ao ar livre, nas florestas e montanhas. Mas esse sucesso, devido a causas locais, foi passageiro. Por suas doutrinas e práticas, Aérius ia contra a corrente geral de sua época. Isso explica o rápido desaparecimento do aerianismo. A teologia deve a ele um testemunho bem datado e formal da tradição católica sobre alguns pontos importantes do dogma.
Fontes: São Epifânio, Adv. heres., LXXV, P. G., t. XLII.
H. HEMMER.