AÉCIO, herege ariano do século IV, apelidado de Vathée. São Atanásio, De synod., n. 5, P.G., t. XXVI, col. 690. Ele nasceu na Celessíria. Após uma juventude aventureira, em que inicialmente trabalhou como ferreiro ou ourives, e depois se dedicou à medicina e à gramática, encontramos Aécio em Antioquia, iniciando-se na teologia sob mestres arianos. Em sua primeira estadia em Alexandria, ele aprendeu dialética com um sofista peripatético e formou-se tão exclusivamente nessa escola que, mais tarde, toda sua ciência parece ter consistido nas categorias de Aristóteles, e toda sua força no abuso do silogismo. De volta a Antioquia, em 350, foi ordenado diácono e incumbido de ensinar pelo bispo Leôncio, um de seus antigos mestres. Logo foi destituído por suas opiniões avançadas e retornou a Alexandria, junto ao bispo ariano intruso Jorge da Capadócia, que lhe ofereceu proteção. Foi lá que Eunômio se tornou seu discípulo; ambos renovaram o arianismo puro, professando que o Filho, em substância e em tudo, é dissemelhante ao Pai, representando assim a extrema esquerda ariana, cujos partidários receberam os diversos nomes de anomeus, aecianos, eunomianos, etc.
Em 358, Aécio voltou a Antioquia, durante o episcopado de Eudóxio, que o favoreceu, mas não conseguiu protegê-lo dos ataques dos semi-arianos; condenado por eles no terceiro sínodo de Sirmium, foi exilado para Pepusa, na Frígia. Ele reapareceu no sínodo de Selêucia, em 359; os acacianos se separaram dele, e no ano seguinte, em Constantinopla, ele foi deposto do diaconato. Por ordem do imperador Constâncio, foi relegado primeiro a Mopsuéstia, na Cilícia, e depois a Ambádia, na Pisídia. Reconquistou o favor e até mesmo a graça sob Juliano, o Apóstata; em 361, foi reabilitado em um sínodo ariano e consagrado bispo, mas sem uma sede episcopal. Morreu em Constantinopla, onde Eudóxio lhe deu um funeral suntuoso; as datas variam entre 366 e 370.
Moralmente, Aécio é apresentado pelos Padres e escritores eclesiásticos da época, exceto pelo ariano Filostórgio, seu panegirista, de forma pouco lisonjeira: uma espécie de epicurista que pregava a fé sem as obras e não via diferença entre ações infames e as mais inocentes necessidades naturais; um parasita que ia de um lugar a outro em busca de bom tratamento; um disputador insolente, sem preocupação com a ordem ou a honestidade. Além de várias cartas ao imperador Constâncio e a diversas personalidades, ele compôs uma obra intitulada Teologia ou Arte de Sofismar; nela, havia cerca de 300 proposições ou raciocínios, dos quais podemos julgar pelos 47 que São Epifânio nos preservou. Ver o artigo ANOMEUS.
Ver São Gregório de Níssa, In Eunom., l. 1, P.G., t. XLV, col. 259-266; São Epifânio, Her., LXXVI, P.G., t. XLII, col. 515-639; Filostórgio, Epitom. hist. eccl., passim, l. III, c. XV, a l. IX, c. VI, P.G., t. LXV, col. 502 e seguintes; as Histórias eclesiásticas de Sócrates, l. II, c. XXXV, P.G., t. LXVII, col. 298-299; de Sozômeno, l. III, c. XV; l. IV, c. XII-XVI, XXIII-XXIV; l. V, c. V, P.G., t. LXVII, col. 1086, 1149-1159, 1186-1194, 1230; de Teodoreto, l. II, c. XIX, XXIII-XXV, P.G., t. LXXXII, col. 1059, 1067-1075; Barônio, Annales, anos 356, n. 119-123; ano 357, n. 76-79; ano 359, n. 88-97; Tillemont, Mémoires, t. VI, Paris, 1704: Arianismo, art. 64-65, 73-74, 89-92, 98; Hefele, Hist. des conciles, trad. Leclercq, § 77, 81-83, 85; Schwane, Histoire des dogmes, trad. Degert, Paris, 1903, t. II, p. 199-200.
X. Le BACHELET.