Adoração Perpétua



A adoração perpétua de Jesus Cristo na Eucaristia é fundamentada na crença dos católicos na presença real. Veja Eucaristia. Esta devoção é uma manifestação dessa crença e ao mesmo tempo uma prova viva da piedade que esse dogma inspira aos fiéis. Ela mostra como a presença real está em harmonia com as aspirações do coração humano e qual a ação que exerce sobre as massas populares.

I. Origem.

A prática da adoração perpétua está intimamente ligada à das quarenta horas, da qual é, na essência, um desenvolvimento. Foi em 1534, na época em que os protestantes multiplicavam seus ataques sacrílegos contra o augusto sacramento de nossos altares, que o padre José, capuchinho, concebeu o projeto de responder a essa intensificação de afrontas com um redobramento de amor. Em sua mente, os cristãos deveriam prestar a Nosso Senhor um tributo particular de homenagens durante quarenta horas consecutivas, em memória das quarenta horas que decorreram desde o momento em que seu corpo divino foi elevado na cruz até o momento de sua ressurreição gloriosa. Não é a Eucaristia, segundo a própria expressão de nosso Salvador, o memorial de sua paixão? O Santíssimo Sacramento seria, então, exposto solenemente durante esse intervalo de tempo; pregações especiais e um conjunto de exercícios piedosos preparariam os fiéis para cumprir, da maneira mais digna possível, um duplo dever em relação ao seu divino Mestre: adorá-lo com mais fervor no sacramento de seu amor; e, ao reparar as injúrias feitas à sua majestade, apaziguar a ira de Deus pelas ofensas dos homens.

Essas orações e essas tocantes cerimônias foram inicialmente fixadas (como ainda é o costume na nossa época) nos três dias que precedem imediatamente a Quaresma. A expiação e a adoração eram mais adequadas a esses dias que as pessoas costumam usar frequentemente em divertimentos pecaminosos, no meio das loucuras do carnaval. Por esse lado, essa prática tão louvável se relaciona com aquelas da antiga Igreja que, desde o século V, havia estabelecido súplicas solenes para reparar os excessos cometidos durante as saturnais e outras festas profanas, últimos vestígios do paganismo.

A ideia do padre José foi recebida com verdadeiro entusiasmo. Em Milão, onde foi inicialmente expressa, os fiéis acorreram em massa, trazendo em abundância velas ou óleo para iluminação e tecidos preciosos para a ornamentação dos altares. De Milão, essa devoção se espalhou pela Itália, onde rapidamente se tornou popular. O apóstolo de Roma, São Filipe Néri, a introduziu na capital do mundo cristão, e ela foi sucessivamente enriquecida com numerosas indulgências pelos papas Pio IV, Clemente VIII e Paulo V, que se esforçaram para propagá-la em toda a Igreja.

II. Diversas Formas.

A piedade dos fiéis logo não se contentou mais em fazer uma única vez por ano, durante os três dias do carnaval, as orações das quarenta horas. De todos os lados, solicitava-se que fossem renovadas com mais frequência. Desde 1548, elas eram realizadas, em Roma, no primeiro domingo de cada mês, na Arquiconfraria da Santíssima Trindade dos Peregrinos, instituída por São Filipe Néri; alguns anos depois, em 1551, adicionou-se o terceiro domingo de cada mês, na Arquiconfraria de Santa Maria da Oração e da Morte. O costume assim se generalizava cada vez mais. Finalmente, em 1592, por sua bula Graves et diuturnae, o papa Clemente VIII ordenou que se prestasse a Deus essa homenagem, constantemente e perpetuamente, na Cidade Eterna. Cada igreja teria seu dia e sua noite, em rodízio, e seguindo uma ordem indicada. A capela do palácio apostólico dava o exemplo, inscrevendo-se no início do ano litúrgico e tomando para seu dia de adoração o primeiro domingo do Advento.

Como indicam as primeiras palavras da bula clementina, o papa sentiu-se inclinado a estabelecer essas súplicas permanentes, devido à consideração das calamidades públicas que, na época, assolavam a cristandade. A obra, ao se expandir e se desenvolver, não perdia, portanto, seu caráter: seu objetivo era sempre a reparação, que se tornara, desta vez, universal. O soberano pontífice esperava que os fiéis, ao adorar, dia e noite, o Santíssimo Sacramento exposto, crescessem no amor de um Deus tão bom e, ao apaziguar com sua fervorosa devoção sua justa ira, atraíssem para o mundo os benefícios de sua infinita misericórdia.

Inicialmente, autorizou-se a extensão dessa prática fora de Roma somente nas cidades onde as igrejas e capelas fossem numerosas o suficiente para que a adoração nunca fosse interrompida, nem durante o dia, nem à noite, durante todo o ano. Sem essa precaução, de fato, o fim que se pretendia alcançar parecia estar em risco, visto que se visava, principalmente, a perpetuidade na oração. Aos poucos, no entanto, permitiu-se considerar, em favor das pequenas cidades que não se achava oportuno privar dessa consolação e desses benefícios apenas pelo motivo de não serem muito populosas. Tornou-se, portanto, muito menos severo.

Os bispos obtiveram indultos especiais especificando as condições às quais seus respectivos dioceses teriam que se conformar para ganhar as indulgências concedidas, inicialmente, somente para a cidade de Roma e para aquelas nas quais a exposição do Santíssimo Sacramento era verdadeiramente contínua, dia e noite.

A grande Revolução Francesa e as longas guerras que depois abalou a Europa trouxeram uma perturbação na prática dessa devoção tão consoladora. Durante a primeira metade do século XIX, as exposições solenes do Santíssimo Sacramento foram bastante raras nas paróquias. Esse costume, geralmente, se conservava apenas nos conventos, mosteiros ou capelas de confrarias. Mas, em 1848, diante dos perigos que os tumultos violentos aos quais a sociedade estava periodicamente submetida faziam correr à sociedade, a ideia da adoração reparadora se impôs mais fortemente à atenção das almas piedosas, e, de todos os lados, manifestou-se o desejo de retomar as antigas tradições. No dia 6 de dezembro daquele mesmo ano, começou em Paris, no venerado santuário de Nossa Senhora das Vitórias, a adoração noturna pelos homens. Entre os fervorosos cristãos, promotores dessa bela obra, nomeemos, em primeiro lugar, o célebre convertido do judaísmo, o cantor inspirado da eucaristia, tão conhecido desde então pelo nome de padre Hermann. Simples leigo na época, ele se uniu, para assegurar o sucesso dessa santa empreitada, a um sacerdote de mérito, o abade de la Bouillerie, futuro bispo de Carcassonne. Deus abençoou seus esforços: os centros de adoração noturna se multiplicaram em Paris e na província; depois, na Alemanha, na Bélgica e no Piemonte.

Em 1875, havia, na França, cerca de sessenta dioceses onde a adoração perpétua diurna estava estabelecida. Em quarenta deles, a adoração noturna era, além disso, praticada, embora em diferentes graus e com algumas interrupções devido às circunstâncias locais e pessoais. Assim, no diocese de Constantine, o Santíssimo Sacramento era exposto, nas paróquias sucessivamente, apenas aos domingos e dias de festa menores. As condições especiais em que ainda se encontrava a Argélia não haviam permitido fazer melhor. Em outras dioceses mais favorecidos sob o ponto de vista da fé, como as do oeste da França, por exemplo, conservava-se a antiga prática do mês de adoração, cuja origem remonta à regência de Ana da Áustria. De acordo com esse respeitável costume, cada paróquia tem seu mês de adoração, durante o qual ocorre toda uma série de exercícios piedosos em honra da santa eucaristia. No terceiro domingo, o Santíssimo Sacramento é exposto; há procissão solene e bênção. É, além disso, um dia de comunhão geral à qual os paroquianos são quase tão fiéis quanto à comunhão pascal.

A adoração perpétua é agora usada na maioria das dioceses. Ela é organizada de maneira que cada paróquia, ou cada capela, tenha, durante o ano, um ou vários dias de adoração, conforme seja necessário, para que o Santíssimo Sacramento permaneça constantemente exposto na diocese. Assim, segundo uma expressão de Mons. Gerbet, bispo de Perpignan, a piedade eucarística, transportando, cada dia, essa solenidade de uma igreja para outra, tem, durante o ano, tantas estações na diocese quanto o sol tem no céu.

Essa devoção tão santa em seu objeto e tão fecunda em seus resultados, frequentemente dá lugar, nos países profundamente cristãos, a belas manifestações de fé e amor para com Nosso Senhor. O dia em que uma paróquia tem a honra de representar todo a diocese diante do Santíssimo Sacramento exposto é um dia de festa muito estimado. A pregação da palavra de Deus, a pompa das cerimônias, a beleza dos cânticos e todas as atividades inspiradas aos pastores por um zelo iluminado fazem dela um dos meios mais poderosos de santificação para os povos e uma das mais tocantes manifestações de piedade para com o Santíssimo Sacramento do altar.

Entre as associações cujos principais objetivos são promover a prática da adoração perpétua, é conveniente destacar aqui:

A Arquiconfraria da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento e a Obra das Igrejas Pobres. A primeira ideia pertence a uma caridosa dama belga, Ana de Meeüs, que, três anos depois, viu-a sancionada por todos os bispos da Bélgica, em 1851. Ela foi o berço da congregação religiosa das Irmãs de Adoração Perpétua. Este novo instituto, fundado em 1857 em Bruxelas, foi aprovado por um decreto da S. C. dos Bispos e Regulares, em 8 de abril de 1872. Pio IX lhe concedeu, em 1863, o direito de se afiliar a confrarias em todo o mundo. Estas, para gozar dos numerosos privilégios da arquiconfraria, devem se agregar ao sua sede principal que é a casa aberta em Roma pelas Irmãs de Adoração Perpétua em 1879.

A Arquiconfraria da Adoração Perpétua e da Obra dos Tabernáculos, cujo centro está em Paris e cujos ramos se estendem por várias dioceses da França e da Argélia. As indulgências das quais ela goza seriam ainda mais numerosas, se, de acordo com o desejo expresso pelo Soberano Pontífice, ela se filiasse à arquiconfraria romana, como fizeram as de Áustria, Itália e Alemanha.

A Arquiconfraria do Sagrado Coração de Jesus, chamada do Voto Nacional. Estabelecida em Paris, no dia 4 de abril de 1876, pelo cardeal Guibert na capela provisória de Montmartre, foi, no ano seguinte, no dia 20 de fevereiro de 1877, erigida em arquiconfraria por Pio IX. Ela obteve, ao mesmo tempo, a faculdade de se afiliar a todas as confrarias com o mesmo objetivo existentes na França, com o direito de comunicar-lhes não apenas suas próprias indulgências, mas também todas as da arquiconfraria romana do Sagrado Coração. Desde os rescritos de 18 de junho e 29 de novembro de 1887, ela pode receber em seu seio os fiéis do mundo inteiro. O cardeal Guibert autorizou em Montmartre a exposição perpétua, diurna e noturna, do Santíssimo Sacramento. Desde essa época (agosto de 1885), os adoradores nunca faltaram. Muitas paróquias, capelas, comunidades religiosas, seminários e colégios têm seu dia e sua noite de adoração em união com a adoração perpétua da basílica do Voto Nacional.

A Obra da Adoração Reparadora das Nações Católicas, estabelecida em Roma há alguns anos. Tem como objetivo completar a obra fundada em 1592 pelo papa Clemente VIII, da qual falamos acima. Todas as nações do mundo estão assim associadas a essas orações realizadas em Roma pelo bem da cristandade. Foi então designado a cada uma delas um dia da semana, de acordo com o seguinte quadro:

Domingo: Inglaterra, Irlanda, Noruega, Polônia.

Segunda-feira: Alemanha, Áustria-Hungria, Grécia.

Terça-feira: Itália.

Quarta-feira: Portugal, América do Norte.

Quinta-feira: França, América do Sul.

Sexta-feira: Suíça, Missões católicas.

Sábado: Bélgica, Espanha, Holanda, Síria.

No dia indicado para sua nacionalidade, os fiéis presentes em Roma devem visitar a própria igreja onde se realizam as orações das quarenta horas, que na Cidade Eterna nunca são interrompidas, como dissemos. Em outros lugares, os fiéis fazem uma visita de cerca de meia hora ao Santíssimo Sacramento em uma igreja à sua escolha e oram pelas intenções dessa obra reparadora.

Desde a data de sua fundação (1883), a Obra da Adoração Reparadora das Nações Católicas não cessou de se espalhar por quase todos os recantos do mundo. Sete anos depois (em 1890), ela já estava constituída em cerca de 400 dioceses.

Finalmente, mencionemos a Sociedade dos Padres do Santíssimo Sacramento, dedicada especialmente ao culto da santa eucaristia. Este instituto religioso foi fundado, em 1856, pelo Pe. Eymard, de santa memória, com a ajuda do Pe. Raymond de Cuers, oficial da marinha, que deixou uma posição brilhante no mundo para se dedicar inteiramente à adoração de Nosso Senhor e às obras eucarísticas.

Para as numerosas indulgências concedidas pelos soberanos pontífices a essas associações, ver Béringer, Les indulgences, leur nature et leur usage, vol. 1, p. 263; vol. 2, p. 107, 108, 118, 142. Para as diversas formas de adoração, ver Annales de l’Association de l’Adoration perpétuelle, Liège, chez Grandmont-Donders; Ruggieri, Œuvre de l’Adoration perpétuelle, Bruxelas, Vromant, 1881; Voix de l’épiscopat français en faveur de l'œuvre universelle de l’Adoration réparatrice, Roma, p. 47, 48; Bulletin du Vœu national, Paris; Relatórios lidos nas assembleias gerais dos membros da Obra da Adoração Noturna, Paris, 1872, 1873, 1874, etc.; La journée du Sacré-Cœur, relatórios sobre a Adoração Noturna, Paris, 1899. Vários mandamentos dos bispos, entre outros, o do cardeal de Bonald, para a Quaresma de 1849, e de Mgr Reess, bispo de Estrasburgo, para o restabelecimento da adoração perpétua em seu diocese, Quaresma de 1856.

T. ORTOLAN.