ADONAI (hebraico: אֲדֹנָי, Adonay; Septuaginta: Κύριος; Vulgata: Dominus e duas vezes Adonai), nome divino hebraico, forma derivada do substantivo hebraico אדון, adôn, "mestre, senhor", pela adição da terminação אי. Segundo R. Kimchi e muitos gramáticos e lexicógrafos antigos que o seguiram, essa desinência seria simplesmente uma forma primitiva do plural de majestade; segundo os modernos, ela é mais complexa: é a terminação do plural masculino junta ao sufixo pronominal possessivo da primeira pessoa do singular, com a troca do 'a' breve por 'a' longo, para distinguir esse nome aplicado a Deus do mesmo nome aplicado aos homens, já que mesmo neste último caso se usa frequentemente o plural de majestade: "meu Senhor", "monseigneur", "meu mestre". Assim, deve-se explicar o primeiro versículo do Salmo CIX (hebraico CX): "Dixit Dominus Domino meo: Oráculo do Senhor (Yahveh) ao meu mestre." No uso, o sufixo י (i) da primeira pessoa perdeu seu valor etimológico, e Adonai muitas vezes não teve outro sentido senão o de "o Senhor" ou de "Senhor" no vocativo. Gesenius, Thesaurus, Leipzig, 1829, p. 329, sub radice אדון, 313; Fuerst, Hebräisch und Chaldäisch Handwörterbuch, Leipzig, 1876, p. 21; Concord. hebr., Leipzig, 1840, p. 16, etc. As populações sírias idólatras, de língua semítica, designaram da mesma forma uma de suas divindades (especialmente o sol em sua juventude ou em seus renascimentos), com o nome que os gregos helenizaram sob a forma de Adonis.
Além do uso frequente de Adonai no texto escrito da Bíblia hebraica, os judeus o pronunciavam ainda toda vez que o texto continha o nome divino יהוה (Yahveh), o tetragrama ou nomen ineffabile que se abstinham de pronunciar por respeito. A Septuaginta nas edições comuns, a Vulgata pré-hierônima e o próprio São Jerônimo se conformaram a esse uso judaico substituindo este nome por Κύριος (Kyrios) e Dominus; de modo que o texto da Vulgata, Êxodo VI, 3, "Nomen meum Adonai non indicavi eis", deve ser entendido conforme o original: "Eu não manifestei [aos patriarcas] meu nome de Yahweh." Quando mais tarde se pontuou o texto hebraico para indicar as vogais, o nomen ineffabile recebeu não as suas próprias, mas as de Adonai. Ver DEUS SEGUNDO A BÍBLIA.
Os Padres gregos, especialmente Orígenes, reconheceram e explicaram bem este duplo uso do nome Adonai e Κύριος, seja como substituição do tetragrama, seja como denominação própria significando Κύριος των δούλων (Senhor dos servos). Orígenes, Comentário sobre Ezequiel, P.G., t. XIII, col. 796. É assim que se deve interpretar e sem dúvida corrigir a versão latina de São Irineu, Contra as Heresias, P.G., t. VII, col. 697, 701, 838-839, 1598-1599. São Hipólito, Philosophumena, P.G., t. XVI, col. 3195. São Jerônimo seguiu Orígenes, Epístola XXV, a Marco, sobre os dez nomes de Deus, P.L., t. XXII, col. 429. Ver também t. XXIII, col. 1277, 1291, etc. Os gnósticos fizeram deste nome divino uma de suas emanações ou éons: cf. São Irineu que os cita e refuta, ibid., col. 838-839.
A liturgia cristã aplicou especialmente este nome à segunda pessoa da Santíssima Trindade, na grande antífona do Advento: "O Adonai", seja em relação com Êxodo VI, 3, segundo as principais traduções, seja em sequência do uso geral do Novo Testamento e dos primeiros Padres, que designam a primeira pessoa mais comumente sob o nome de Θεός (Theos), e o Verbo sob o nome de Κύριος (Kyrios), tradução de Adonai do texto hebraico.
E. PANNIER.