I. Agentes finitos.
II. Deus.
As expressões ad intra e ad extra foram adotadas pela teologia moderna para distinguir as operações divinas. Elas correspondem à actio immanens e à actio transiens dos antigos, entendidas com os ajustes necessários à condição especial do ato divino.
I. Agentes finitos.
Na ordem dos agentes finitos, deve-se distinguir a operação interna ou ad intra, e a operação externa ou ad extra.
1º A primeira ocorre sempre que a atividade finita não se espalha para fora do sujeito agente, nem por seu próprio ato, nem por qualquer efeito direto. A ação ou operação evolui e se exerce inteiramente dentro do sujeito agente; permanece nele, ad intra, imanente, sem continuar ou se prolongar fora dele. É própria apenas dos seres vivos, e Santo Tomás, De potentia, q. X, a. 1, distingue a operação ad intra corporal, como a sensação, e a operação ad intra espiritual, à qual se reduzem os atos de inteligência ou de vontade.
2º A operação ad extra ou externa é aquela que, do sujeito agente onde começa, se prolonga em direção a um termo exterior a esse sujeito, realmente distinto dele, onde se completa. Assim o calor irradia, passa do fogo para os meus membros entorpecidos e logo é ali recebido. De fato, o que há no agente, o que constitui seu próprio ato, encontra-se no termo receptor e constitui o efeito produzido. Os antigos constataram isso com esta fórmula: quod est actio in agente, id est passio in recipiente: o que é ação, atividade no agente, isso mesmo é paixão, passividade no ser receptor. Por isso, essas operações externas eram ditas formalmente passantes, formaliter transeuntes. Chamavam-nas propriamente ações, em diferença às operações intrínsecas, às quais se reservava especialmente o nome de operações. Santo Tomás, De veritate, q. VIII, a. 6.
II. Deus.
A teologia também aplicou a Deus a distinção filosófica das operações ad intra e ad extra, mas com as reservas que implica o modo de ação próprio do ser infinito.
Se considerarmos na operação interna apenas o exercício interior de uma atividade, começando e terminando na própria intimidade do agente, todas as operações divinas são exatamente operações internas ou ad intra. As atividades que nossa ciência humana distingue em Deus são na realidade um único ato infinitamente puro, a própria essência divina; e todas as operações de Deus, não sendo outra coisa senão o seu ser, são todas igualmente internas ou ad intra.
Mas, se ela passa a observar as operações divinas, não mais nelas mesmas como atos, mas em seus efeitos ou resultados, a análise teológica constata que algumas não produzem nenhum termo fora de Deus, nenhum efeito distinto dele; enquanto outras têm claramente o poder de estabelecer, fora do ser divino, um termo qualquer, substância ou acidente. Somente as primeiras operações mantêm o nome próprio de operações internas, intrínsecas ou ad intra, e são de duas categorias: umas são comuns às três pessoas da Santíssima Trindade: são todos os atos de inteligência ou ciência divina, e também os atos de vontade ou amor divino que não têm termo fora de Deus; outras são próprias de certas pessoas: são as operações chamadas notionais, como a geração do Verbo que é própria do Pai, como a espiração que é o ato comum do Pai e do Filho do qual procede o Espírito Santo. Ver Ciência Divina, Vontade Divina, Geração, Expiração.
3º As operações divinas que têm o poder de produzir um termo qualquer, substancial ou acidental, infinitamente distinto de Deus, levam o nome de operações exteriores, externas, extrínsecas ou ad extra. Diferentemente do que ocorre no agente finito, as ações divinas não saem de Deus, não se escoam fora da natureza divina que as emite. Nunca são, portanto, realmente, formalmente passantes, formaliter transeuntes. Idênticas à essência divina, permanecem e se absorvem completamente, como atos, nessa essência infinitamente simples. Se pudesse ser de outra forma, o panteísmo seria a conclusão final da teologia da ação em Deus. Sabemos, no entanto, e a fé também nos ensina, que o poder infinito, sem sair de si mesmo, pode, à sua vontade, chamar à existência substâncias ou acidentes sem número, tanto na ordem da natureza, quanto nas ordens preternatural e sobrenatural. Essas substâncias ou acidentes são absolutamente distintos de Deus, e, nesse sentido, são colocados fora de Deus e de sua essência, extra Deum, assim como os atos de onde procedem são verdadeiramente, em seu termo, operações exteriores a Deus, ad extra, extra Deum.
São, portanto, ações que, embora não saiam de Deus, produzem resultados análogos às operações que se escoam do agente finito para um termo produzido; elas têm uma virtude análoga de produção, e podem ser chamadas equivalente ou virtualmente passantes, equivalenter, virtualiter transeuntes.
Mas, embora os seres finitos não sejam, nem contenham, a ação divina que os criou continuada identicamente até eles e neles, eles não deixam de estar essencial e totalmente sob a dependência constante dessa mesma ação divina que os produz, conserva e os dirige para seu fim. Sob esses múltiplos aspectos, os seres finitos certamente não estão fora de Deus, nem fora de sua providência tutelar ou de sua presença inevitável.
De acordo com a própria natureza de seu termo, as operações exteriores de Deus podem ser facilmente classificadas. Temos, assim, as operações propriamente produtoras; se se trata de toda uma substância, é a criação; se se trata apenas da forma substancial, é a informação, como a união da alma e do corpo, como a obra dos seis dias em que Deus dava formas diversas a uma matéria previamente criada; se se trata de qualquer acidente, é a alteração com todos os seus graus. Ver Criação, Forma. Quando os seres são uma vez produzidos, a atividade divina não os abandona totalmente a si mesmos. Ela os conserva, governa, sustenta intimamente na ação; é a conservação, a providência e o governo de Deus, o concurso divino. Ver esses termos. Finalmente, na ordem sobrenatural, além das alterações que produzem, conservam ou aumentam a graça, é necessário mencionar especialmente a Encarnação, que uniu a natureza humana de Cristo à pessoa do Verbo, e a Transubstanciação, que transforma o pão e o vinho no corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ver ENCARNAÇÃO, TRANSUBSTANCIAÇÃO, GRAÇA.
H. Quilliet.