Antigamente, em muitas igrejas, especialmente nas igrejas catedrais, na Quinta-feira Santa, era proferida uma fórmula contendo a enumeração de todos os pecados, e em seguida era concedida uma absolvição geral para todos os pecados confessados. No tempo do Padre Morin, esse costume era mantido em muitas igrejas, especialmente no diocese de Paris. Ele fornece, no local citado, o texto dessa fórmula, que era deprecante:
Por mérito da paixão e ressurreição, etc. Conceda a indulgência, a absolvição de todos os vossos pecados, coração contrito e verdadeiramente penitente, graça e consolação. Que o Espírito Santo vos conceda, ó Deus onipotente. Amém.
E então uma oração:
Oremos, Nosso Senhor Jesus Cristo, que disse aos seus discípulos, 'quaisquer que forem os pecados que vós perdoardes sobre a terra'... Ele mesmo, por meio de Nosso Ministério, vos absolve de todos os vossos pecados, tanto os cometidos quanto os pensados... A bênção de Nosso Senhor, etc.
O Padre Morin também menciona uma cerimônia idêntica, preservada no ritual de Rouen, que foi reimpressa em sua época. — Qual era o valor dessa absolvição quaresmal? O editor do ritual de Paris, de onde é retirado o texto acima citado, afirma que essa cerimônia servia para obter o perdão dos pecados veniais e também era uma espécie de exame de consciência para aqueles que haviam esquecido falhas em suas confissões, ou para aqueles que não conheciam suficientemente o método para se examinarem. O ritual de Rouen vê aqui um exercício de humildade, onde se reconhece a capacidade de cometer todos esses pecados, se não fosse pela graça de Deus. Ele acrescenta ainda esta explicação: os fiéis formam um só corpo; quando um fiel comete um pecado, todo o corpo dos fiéis é afetado; portanto, a penitência deve ser pública. Parece-nos, e também é o sentimento de Morin, que essa cerimônia é um vestígio da penitência pública e da absolvição que ocorria, como se sabe (ver III ABSOLVIÇÃO na Igreja latina do VI ao XI século, col. 165), na Quinta-feira Santa na antiga Igreja. É óbvio, além disso, que há vários séculos essa cerimônia não era sacramental e não tinha a eficácia da absolvição sacramental no tribunal da penitência. Isso era o que os teólogos escolásticos chamavam de um sacramental.
Morin, Comentário histórico sobre a penitência, Antuérpia, 1682, l. VIII, c. XXVI, p. 600.
F. CABROL