ABDIAS, bispo da Babilônia
Eusébio, História Eclesiástica, 1.13 P. G., t. XX, col. 127, relata, segundo a lenda de São Tadeu, que esse discípulo curou, na presença do rei Abgar, um doente chamado Abdos, filho de Abdos.
Sócrates, História Eclesiástica, VII, 17 e seguintes, também menciona as primeiras missões cristãs entre os persas no final do século IV. Ele descreve como foram conduzidas por Marutas, bispo da Mesopotâmia, e por um Abdias, também chamado bispo da Pérsia; mas a leitura Abdias é incerta. Este mesmo nome de Abdias foi popularizado no Ocidente por uma coletânea de lendas sobre os apóstolos, intitulada Historia certanvins apostolic ou ainda Historie apostolice (foto), dividida em dez livros e contendo os Atos dos apóstolos Pedro, Paulo, André, Tiago, filho de Zebedeu, João, Tiago, filho de Alfeu, Simão e Judas Tadeu, Mateus, Bartolomeu, Tomé, Filipe.
Os manuscritos não indicam os nomes dos autores: mas os Atos de Simão e Judas mencionam um companheiro dos dois apóstolos, chamado Abdias, feito por eles bispo de Babilônia; agora, no início da coleção, há uma prefácio que se diz composto por Africano (Júlio Africano, o cronógrafo, contemporâneo de Orígenes), e nesta, Africano alega que os atos que ele vai publicar foram compostos em hebraico por Abdias, bispo de Babilônia, traduzidos do hebraico para o grego por Eutrópio e do grego para o latim por Africano: tudo ficção.
Uma vez liberta das afirmações deste prefácio, a crítica encontra-se diante da própria coleção, que é nitidamente latina em sua origem, pois depende da Vulgata de Jerônimo. Dois estágios podem ser distinguidos na formação desta coleção: primeiro, foi reunida uma coleção de paixões dos doze apóstolos, paixões derivadas da coleção dita de Leucius para os apóstolos Pedro, Paulo, João, André, Tomé, ou derivadas de documentos independentes para os outros. Então, a esta coleção de paixões, com o prefácio mencionado acima, foram adicionados relatos de milagres ou virtudes, especialmente no que diz respeito a São André e São Tomé, para os quais nosso compilador tem como fonte Gregório de Tours.
Assim constituída, a coleção do falso Abdias parece ter sido conhecida por Fortunato (+ 609) em seu poema sobre a virgindade (vs 137 sq.) e também pelo autor da Recensão Auvergnata do Martirológio Jerônimo, no final do século VI. "Gregório, Fortunato, a Recensão Auvergnata do Martirológio Jerônimo, tudo isso representa o mesmo meio literário, o mundo eclesiástico franco do final do século VI. Este é o país de origem e a data da coleção chamada de Abdias, seja qual for a idade, seja qual for a pátria de cada uma das peças que nele entraram."
O interesse particular do pseudo-Abdias é nos informar sobre as lendas que, no mundo franco do século VI, circulavam sobre os apóstolos, e ter-nos conservado, em relações bastante derivadas, alguns dos Atos apócrifos mais antigos.
Referências: A. Lipsius. Die apokryphen Apostelgeschichten, Brunswick, 1883, t. 1, p.117 sq.; L. Duchesne, Les anciens recueils de légendes apostoliques (Relatório do Congresso Científico Internacional dos Católicos, Bruxelas, 1894, secção v, p. 74). O texto do pseudo-Abdias pode ser encontrado em Fabricius, Codex apocryphus Novi Testamenti, Hamburgo, 1700, p. 402 sq.
P. BATIFFOL.